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Christina, que era um poucochinho devota, censurou timidamente as palavras da morgadinha. Primo Henrique disse ella julgo que ainda será preciso o seu auxilio para livrar do contagio esta innocente Christina. Prompto, prima Magdalena; para as boas causas tenho sempre armada a minha vontade.

A morgadinha readquiriu outra vez o seu bom humor. Estamos quasi a cair no sentimentalismo. Cautela! Saldemos antes as nossas contas, como mulheres de juizo. Em compensação da pequena offensa que me fizeste, vaes-me fazer uma confissão formal, a qual até agora tens evitado. Ora confessa, adivinhei o estado do teu coração? Dize. Christina hesitou.

Apreciára-lhe até então os dotes de creança, a bondade do coração, os extremos de affecto que possuia; mas ainda a não tinha visto tomando assim tanto a sério a sua missão de mulher e desempenhando-se d'ella tão dignamente. Esta ordem de reflexões conduzia naturalmente a outras o espirito da morgadinha.

Então por que recusas? perguntou-lhe a morgadinha, em voz baixa. Porque não quero abusar da delicadeza d'elle, nem da tua. A morgadinha abanou a cabeça em ar de reprehensão, fitando-a, mas não lhe disse nada. Pouco a pouco ia sendo mais completo o silencio em torno d'elles. tinham passado acima dos rumores do valle, que não subiam a mais de meia encosta.

Henrique principiava a ser de novo subjugado pelo tom de severidade e de energia, com que a morgadinha lhe falava; ainda assim um resto de scepticismo obrigou-o a replicar: Santo Deus! prima Magdalena; não um colorido tão pavoroso ás minhas supposições. Despojal-a de uma crueza deshumana, para a dotar de uma sensibilidade, verdadeiramente feminil, é uma justiça feita ao seu coração.

Mas ainda agora reparo! exclamou a morgadinha eu esquecida a conversar, e sem avisar a minha tia e Christina da sua chegada! Não o fiz logo, porque as sabia occupadas em umas longas novenas, em que andam; mas agora é tempo. Vae, Marianna, e tu, Eduardo; ide ambos dizer-lhes que está aqui o... o primo Henrique de Souzellas. Marianna e o irmão sairam a correr.

A morgadinha reconhecêra Augusto através das sombras nocturnas, e tivera um presentimento do que significava a presença d'elle n'aquelle logar e n'aquella occasião. Por concentrada e discreta que fôsse a paixão de Augusto, não era um mysterio para Magdalena. A extranhar alguem esta penetração de vista não será decerto nenhuma das minhas leitoras.

A morgada dos Cannaviaes, madrinha de Magdalena e de quem viera a esta o nome de morgadinha, pelo qual mais conhecida era na aldeia, havia ao morrer instituido um legado a favor de Augusto, então creança, com a condição d'elle abraçar a vida ecclesiastica.

Que lembrança! tornou Christina, cada vez mais embaraçada pois imaginas devéras que eu?... E por que não? Lena! Não ha nada mais natural. Se queres, juro-te... Ah! atalhou a morgadinha, pondo-lhe a mão nos labios. Isso não, que é mais sério. Jurar não te deixo eu.

Os olhos de Ermelinda fitaram-se tristemente no sol vacillante, com a expressão, cheia de saudade e de poesia, de uma alma joven que se despede da vida, e, quando o sol desappareceu, desviaram-se lentamente para o rosto de Magdalena, que a observava com anciedade. Ermelinda sorriu; um sorriso mais triste do que as mais tristes lagrimas. A morgadinha apertou-a ao seio, commovida.

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