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Muitas vezes, na rua de Varennes, os entrevi eu dentro d'um cofre hespanhol do seculo XIV, de ferro lavrado, que Fradique denominava a valla commum. Esta senhora, que se chamava Varia Lobrinska, era da velha familia russa dos Principes de Palidoff.

Tinha sido l'ami de coeur de Rigolboche, e quando ella rompeu por se ter apaixonado por Capoul, Carlos Fradique deixou-lhe no album uns versos quasi sublimes, de um desdem cruel, de um comico lugubre, uma especie de Dies irae do dandysmo... Promettia á Rigolboche que quando ella morresse elle velaria para que ainda além do tumulo ella vivesse no chic, sentindo Paris na sepultura.

E uma voz muito serena murmurou: «Separámo-nos ha annos no caes de Boulak...» Ergui-me com um grito, Fradique com um sorriso; e o maitre-d'hotel recuou assombrado diante da meridional e ruidosa effusão do meu abraço.

Descobrira, surprehendido, largas folhas de versos, n'uma tinta amarellada. Eram as Lapidarias. Lêra a primeira, a Serenada de Satan aos astros. E, maravilhado, pedira a Fradique para publicar na Revolução algumas d'essas estrophes divinas. O primo sorrira, consentira com a rigida condição de serem firmadas por um pseudonymo. Qual?... Fradique abandonava a escolha á phantasia de Vidigal.

Se eu então concebesse uma Philosophia original, ou preparasse os mandamentos d'uma nova Religião, ou surripiasse á Natureza distrahida uma das suas secretas Leis de preferencia escolheria Fradique como confidente d'esta actividade espiritual; mas nunca, na ordem do Sentimento, iria a elle com a confidencia d'uma esperança ou d'uma desillusão.

Pois bem! Fradique dispunha de uma d'essas visões privilegiadas. O proprio modo que tinha de pousar lentamente os olhos e detalhar em silencio como dizia Oliveira Martins revelava logo o seu processo interior de concentrar e applicar a Razão, á maneira de um longo e pertinaz dardo de luz, até que, desfeitas as nevoas, a Realidade pouco a pouco lhe surgisse na sua rigorosa e unica fórma.

A ultima vez que Fradique visitou Lisboa foi essa em que o encontrei no Rato, lamentando os saraus beatos e secios do seculo XVIII. O antigo poeta das Lapidarias tinha então cincoenta annos; e cada dia se prendia mais á quieta doçura dos seus habitos de Paris.

Alguns amigos pensam que ahi se devem encontrar, se não completas, ao menos esboçadas, ou coordenadas nos seus materiaes, as duas obras a que Fradique alludia como sendo as mais captivantes para um pensador e um artista d'este seculo uma Psychologia das Religiões e uma Theoria da Vontade. Ai de mim, ai de mim, que me foge a penna para o mal!

Depois d'esses enxertos funestos no velho tronco lusitano, os fructos têm perdido o sabor, como os homens têm perdido o caracter...» uma occasião, n'esta especialidade consideravel, o vi plenamente satisfeito. Para o gozar com coherencia Fradique despiu a sobrecasaca.

Eu vi Rytmel córar de leve e torcer nervosamente o bigode. Pelo lucido instincto da paixão, comprehendi que entre aquella glorificação dos lagos, e os occultos pensamentos de Rytmel, havia uma affinidade. Lembrou-me a revista de Longchamps, os louros cabellos irlandezes de miss Shorn, e voltando-me para Carlos Fradique: Meu caro amigo, um pouco do seu violoncello, sim?

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