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Atualizado: 13 de julho de 2025


Na casa da Torre, exasperação identica a respeito da Oriola, não havendo serão que as estroinices do primo não fossem esmiuçadas, exageradas e discutidas. Carlinhos não tinha pae, Dora não tinha mãe. Mas auctoritaria e toda orgulhosa do seu reino domestico, da riqueza e alta educação que recebera, tambem ella punha em torno de si uma pequenina côrte dulcerosa e servil.

E n'uma avidez, sempre de longe, a viuva contemplava a sobrinha, idealisada no meio dos tules, como uma grande figura de legenda. Quando viu menos gente no gabinete, Zarco foi apresentar Dora a sua cunhada; a recepção foi quasi affectuosa, abalada a viuva como estava, pela grande batalha de generosidade que momentos antes ferira com o da Torre.

As mulheres sobretudo, cercavam Dora de pequenas ternuras ridiculas, beijos muito repenicados, segredinhos entre risadas.

Foi quando Dora levantou para beijar a tia pela primeira vez, o grande véu de noiva em que vinha envolta. Essa belleza senhorial d'uma soberba esculptura, que a viuva nunca pudera contemplar assim em plena efflorescencia, pareceu feril-a com o seu esplendor de pureza e brancura, porque se pôz muito pallida, apenas o véu de Dora se erguera.

«...e mais dou a minha filha Dora Victorina Maria de Sousa Alvim Mexia Zarco da Cunha Menezes... as herdades denominadas da Cova, das Sesmarias, da Chaminé, e Côrtes tanto Grandes como Pequenas, com seus montes, gados, arvoredos, dependencias e serventias, a partir do dia em que desposar o dito seu primo Carlos; e mais lhe faço doação de todas as minhas lavoiras do Guadiana, que vão entre os moinhos da Coitada e a minha quinta de Valle de Borrucho, constando de doze herdades seguidas, partindo d'uma banda com o Guadiana, da outra com a estrada de Moira, da outra...» E aqui Mathias foi obrigado a parar, porque um borborinho d'espanto se levantára entre os convidados.

Os bem informados n'isto d'interesses e allianças possiveis ou premeditadas, não viam por essa orla toda do districto, um casamento á altura de Dora, a menos que a orgulhosa descesse, o que todos diziam não ser provavel. Apenas um noivo a merecia bem, Carlinhos. Esse, opinavam as terras circumvisinhas, quando as gallinhas tiverem dentes.

Carlinhos, tão ruidoso e leviano por onde quer que andasse, ficava sério e perturbado sob esses rapidos encontros com Dora, e os seus olhos claros esmaltavam profundezas ardentes, e melancolias de quem fica a scismar. Porque em verdade, mulher alguma podia equiparar-se a Dora, pela nobreza do seu typo, estudada elegancia de maneiras, vestuario, contos de fortuna e altivez de familia.

O coronel dera o braço á viuva que descera meio véu; o generalito, gazil como um rato sabio, levava a morgada das Palmas, muito birrenta de lhe terem descosido a cauda verde nabiça; e Dora pelo braço de Carlinhos, vermelha, comovida, grandes olhos de saphira humida, radiava a frenetica belleza d'uma virgem que se abala e palpita, ao primeiro contacto d'um homem.

Nem uma vez Dora tinha fallado a sua tia; creancita ainda, succedera encontral-a não sei que de vezes; os olhos pretos da viuva detinham-se um momento na figurinha petulante da bébé, e desviavam-se logo sem rastro d'affecto. Verdade é que o velho Zarco referindo-se a Carlinhos, punha sempre palavras crueis, marau, vadio, o filho d'aquella...

Cada viajata de Dora durante a estação de banhos, cada mez d'opera em Lisboa, no inverno, as primaveras com o pae pela Andaluzia, no Algarve, ou em Marrocos e Gibraltar, para espreitar o dolente azul do Mediterraneo do alto das artilhadas escarpas inglezas, eram motivos de censuras na Oriola, e surdas prophecias de ruina iminente.

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