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Atualizado: 23 de outubro de 2025
O seu crime foi associar-se desaproveitadamente com moedeiros falsos, prestando-se a servir de passador de notas no Brazil; no acto, porém, de fazer-se á vela para lá, de um porto do archipelago açoriano, foi denunciado, preso, e condemnado. De volta para Portugal, foi visto por Deolinda a bordo da galera de seu pai, que o tratava com desdem, senão desprezo.
E Deolinda, quando soube que elle era um dos vinte e cinco cadaveres escalavrados na costa de Cabo Verde, chorou poucas lagrimas, e parecia querer romper no seio uma represa d'ellas, que lhe deliam os estames da vida. Estamos pobres! exclamava o pai. Temos de mais para o que havemos de viver respondia ella com uma alegre serenidade.
Deolinda foi colhida nos braços do pai, quando resvalava da camilha ao pavimento, com o livro das suas orações nas mãos convulsas, e o nome da Mãi dos afflictos nos labios. Morreremos, meu pai?! perguntou trespassada de horror. Animo! murmurou elle abraça-te em mim, que eu não quero chorar-te nem que me chores, filha... Morreremos juntos.
Escabujou em ancias muito afflictivas, pedindo a Deus com dilacerante esforço que lhe abreviasse o transe. Rompeu em soluços; e, suffocado pelo choro ou por um golfo de sangue, arrancou da vida n'um estremecimento instantaneo. Deolinda ouviu o murmurio rouco d'esta convulsão da morte, e voltou a face para onde suppunha que estava o pai. Chamou-o. Sentou-se no leito com supremo esforço.
Deolinda deleitava-se a remirar a prata das ondas espumantes, ou, enlevada em leituras amenas, passava as tardes na tolda, em quanto não chegavam os seus amores mais queridos, as estrellas do céo e as phosphorescencias do mar.
Lá está em cima aquella casa triste... O brazileiro, que a comprou, não a quiz habitar. As janellas nunca mais se abriram. O vestido, que despiram do cadaver de Deolinda, pende ainda da espalda do canapé em que ella morreu. Não se procure boloirar nos diccionarios, em quanto os diccionaristas ignorarem a linguagem popular do classico povo do Minho e Traz-os-Montes.
E as lanchas, balançadas no vai-vem das ondas, chofravam nos flancos do navio por entre espadanas de espuma. Deolinda atravessou corajosa, e firmada no braço do pai, até ao portaló. O Africano levava no rosto um terror indescriptivel, e nas contorsões e visagens de afflicção a agonia da peor morte.
Ao quinto mez do contracto, os padecimentos de Deolinda tocaram nos extremos symptomas da morte. As hemorrhagias amiudaram-se. Estava já entorpecida, immovel, salvo quando arrancava do seio as aspirações, que revelavam ao través das coberturas da cama os arquejos do coração.
Passou o pai o restante do dia e parte da noite á beira da cama, inventando com santo esforço alegrias que divertissem Deolinda da concentração que uma ou outra lagrima desafogava por momentos. Alegrias!... Que heroismos cabem em peito de pai! Quantos ha que são suppliciados por esse amor que parece vir da mão de Deus!
Bem que o condemnado não ousasse abeirar-se dos mercadores, e menos d'ella, Deolinda usou traças de conversar com elle uma fugitiva hora de noite serena, em quanto o pai, no seu camarim, formava esquadrões de algarismos, dos quaes tirou a prova real de que os seus haveres excediam para muito os duzentos contos que lhe attribuiam.
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