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Atualizado: 18 de junho de 2025


Eil-o se endireita e recomeça. E pouco a pouco a minha alma abre as asas e suspende-se n'um paiz lilaz de supremos extasis acusticos. a riqueza dos timbres e a gracilidade dos motivos me fazem esquecer que seja um carrilhão de sinos que eu escuto.

O cavalleiro não teve tempo para comprehender o que ouviu, porque um susurro immenso, repentino, burburinhou por toda a praça. O carrilhão de Strasburgo dava meio dia. Ficaram boquiabertos, attentos esperando o apparecimento dos Reis Magos. Sentiu-se primeiro o ruido estrepitoso de umas azas pesadas, depois o clangor de uma voz énea, soturna. O cavalleiro estava pasmado com o que via.

Emtanto que no meio d'aquellas instrumentações picturaes do carrilhão, d'onde o mysterio da missa se ennubla e desenvolve, sempre o pensamento musical podia seguir-se, com a pureza d'um psalmo; tão limpido, que eu cerrava os beiços de medo que o meu halito embaciar pudesse, a crystallinidade d'aquelle adoravel motivo.

Ahi começa o velho a fazer soar o carrilhão, e eu sinto outra vez os meus pavores tomarem fórma, e as minhas angustias irem cavalgando extravagantes bruxarias. Cada vez mais á roda dos meus sentidos, fosforeja e zumbe esta encarniçada lucta dos dois fluidos antagonicos, que a pouco e pouco se depuram, quando a minha percepção lhe consegue fixar a transcendencia.

Vamos ao Credo. O carrilhão centuplica o enxame instrumental de grupos harmonicos, e é o momento em que o universo une a bocca á poeira, para afirmar essa que elle tanta vez terá sentido esmorecer no coração. Oh, a musica do velho era uma grande opera de effeitos supremos, onde a alma se banhava aspirando ao mysterio d'um ideal celeste e inaccessivel.

Todos correm pressurosos, perguntam: «Que aconteceuDona Olympia mais ligeira do que todos, correu, fechou a porta, e que viu?! Viu na cama semeados carrapichos aos milhões! alfinetes espetados! e por baixo dos colchões campainhas penduradas! E a pobre da menina que se foi sentar na beira... espetou-se não sei onde, nem como, de que maneira fez dobrar o carrilhão.

O carrilhão faz-se voz da architectura de repente, e o desdobramento na musica dos caprichos floreteados na pedra pelo cinzel tanto os meios d'expressão se centuplicam e vão fasciando de originaes melodias, arrancos trágicos e indomáveis rouquejos de paixão.

A cada manobra do velho, era como se as badaladas me fossem batidas em cheio, no coração, derramando-se-me em crises d'angustia por toda a rede dos nervos convulsivados. Foi n'este estado que eu corri direito a elle, e pude agarrar-lhe as pernas no momento em que o maldito se preparava a descrever nos ares uma arrojada espiral, como Quasimodo, abraçando pela cinta o reboleiro maior do carrilhão.

Surdo, maldito, o desespero começa a babar-lhe da bocca, imprecações incoherentes. De novo o carrilhão blasphemo, vomita das campanulas de bronze, a sua bruxaria macabra de mostrengos. Os ultimos fieis arrastam as sapatas no adro, e pela montanha as luzitas descem ondulosas, hesitantes, como um bailado de pyrilampos.

Mas da bocca dos sinos, como d'uma cornucopia emborcada, vão golfando inumeraveis turbilhões d'espiritos fatuos, sylphos de carrilhão, vibrações tornadas fórma que vão e vem, sobem e descem, cabriolam, zigzagueam, rolando, partindo, tornando a ir, e diffundindo-se nos longes em grandes circulos concentricos, onde as figuras se perdem emfim, n'uma bruma côr de cinza.

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