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Betty! não posso dormir, não sei que tenho. Quero dormir por força. Quero ámanhã todas as minhas faculdades em equilibrio. Se não durmo estou perdida, endoideço... Dá-me alguma cousa. Mas o quê, minha senhora? Olha, dá-me aquella bebida que davam á mamã nas insomnias, a que tu tomas quando tens dôres... Tens? Quer opio? Não sei! agua opiada, vinho opiado, o quer que seja.

Olhava machinalmente o tremer da luz. Betty, disse eu, deita-te. Eu estou bem. Vae... Ella saiu, chorando. O quarto estava mal allumiado. Eu via, fóra, as ramagens do jardim, recortando-se n'um relevo negro sobre o pallido ceu, cheio da lua. Estive muito tempo assim, olhando, sem consciencia e sem vontade.

Voltei para junto d'elle. Ajoelhei. Chamei-o. Quiz dar-lhe um beijo: toquei-lhe com os labios na testa. Estava gelada. Dei um grito. Tive horror d'elle. Tive medo do seu rosto livido, das suas mãos geladas! Betty, Betty, fujamos! Consciencia, vontade, raciocinio, pudor, perdi tudo aos pedaços. Tinha medo, sómente medo, um medo trivial, vil! Fujamos! Fujamos! Não sei como saí.

A lua pareceu-me regelada. Betty entrou. Betty, disse-lhe eu n'uma voz sumida, sabes? Tenho medo de morrer doida... Ella olhou-me, e viu no meu rosto uma tal expressão d'angustia, que me disse: Que tem, meu Deus, que tem? Chore, minha rica menina, chore... Não posso, não posso. Eu morro... Vem para o de mim, Betty!... Meu Deus, quer-se deitar? diga...

Betty, disse eu, vivamente, fechando a porta do quarto. Dize-me: aquella agua com opio não faz mal? Porque? sente-se doente? Não. Estou bem. Não faz mal? Nenhum. Juras? Juro. Mas... Jura sobre estes santos Evangelhos. Oh, senhora! Mas porque? Juro. Mas porque? Tens opio? Dá-m'o. Quer dormir? Não. Ella então olhou-me, fez-se extremamente pallida: Mas, senhora condessa, que quer isto dizer? Dá-m'o.

Achei-me ajoelhada ao d'elle. Devia ser meia noite. Estava immovel, deitado no sophá. Tinham passado duas horas. Senti-o frio, via-o livido, não me attrevia a chamar Betty. Dei alguns passos pelo quarto em uma distracção idiota. Cobri-o com uma manta. Vae accordar dizia eu machinalmente. Compuz-lhe os cabellos ligeiramente desmanchados.

Betty tinha ido commigo, e ficára n'um quarto distante, que dava para uns terrenos vagos... E se houvesse um desastre! pensei eu de repente. Não ha pessoas que succumbiram completamente, cujo adormecimento foi acabar de arrefecer no tumulo? Mas eu via sempre a saliencia da carteira, que me tentava como uma cousa resplandecente e viva.

Rytmel tinha ao de si um copo com agua. Bebia aos pequenos golos quando fumava. Eu deixava-o fumar. Mas eu não sabia como havia de achar um momento meu, bastante para deitar duas gotas de opio no copo. Tive um expediente trivial, estupido. Rytmel, disse eu, como n'um theatro, como nas comedias de Scribe, com uma voz imbecilmente risonha, dizer a Betty, que póde ir, se quizer.

Dá-m'o, Betty. Pensas que me quero matar? Ella calou-se. Oh, doida! disse eu, rindo. Se me quizesse matar não t'o pedia. Mas sou feliz... Passaram-se outras cousas, vês tu? Não t'as digo, mas sou feliz. Sabes o que é?

Betty, é uma cousa irreparavel... devia ser. Foi pensada a sangue frio. Vês como estou tranquilla, sem exaltação, sem nervos.

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