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E toda a noite passou assim, até que de madrugada adormeceu murmurando em segredo o nome de Renée. Era a puberdade que aparecia subitamente, irrompendo d'um jacto, como um poço artesiano de repente aberto. Longo tempo durou esse noivado vermelho. Certa tarde, D. Benito que ainda se arrastava pelo palacio, achacoso e velho, fazendo do dia uma comprida sésta, surprehendeu-os a beijarem-se.

O marquez, que pousára sobre o banco de marmore o livro antigo, mostrou-lhe uma haste toda coberta de goivos brancos: esta planta, D. Benito?

A disciplina escolar, os olhos curiosos dos camaradas que o troçavam, o olhar duro dos mestres, o mau cheiro, a falta d'ar fizeram-lhe ter medo do colégio. E prometeu ao pae tudo, para não voltar. Até aprender as resas de D. Benito e as da tia Angra! Com grande escandalo de D. Benito, o marquez anuiu. Escusas de aprender resas.

O que sabemos é que Augusto Leite n'esse dia apresentou-se ás côrtes, pedindo consentimento para fallar ao rei como enviado do duque de Angouleme, commandante do exercito francez. Perguntado pelos meios que empregára para chegar desconhecido até Cadiz, respondeu que embarcára n'um porto da França, com passaporte que apresentou, passado a frei Benito das Cinco Chagas.

Certamente, que junto de si, para a amparar e dirigir, estava sempre, rotundo e oleoso, o conego D. Benito, que com ella viera de Sevilha, e na capella risonha e branca constantemente ardiam lumes fumarentos de tochas; certamente, que as missas, as novenas, as trezenas, lausperennes fôra difficilimo conseguir do Senhor Patriarcha um dia de lausperenne, cada mez, mas conseguira-o a protecção decidida da baronesa d'Angra todas as festas e macerações da egreja se sucediam na capella clara; as confissões, as comunhões multiplicavam-se; um cilicio de crina fazia, ás sextas-feiras, gemer a branca noiva, mas tudo parecia falso, porque a capella tinha sempre o ar de rir e de tentar, nas volutas floridas dos seus capiteis, nas figuras nuas, que mostravam em cada ruga da pelle, em cada grão de marmore, um desejo impuro que era uma tentação e um escarneo.

André, porem, ia a fazer doze annos; não podia continuar entre o catecismo de D. Benito e o inglez doce da miss. O marquez mandou-o para o colégio. Mas á tarde, quando o conego o trouxe para casa, André abraçou-se ao pae a chorar e a pedir-lhe para não voltar ali.

Com a morte da marqueza, o palacio voltou a ser mais silencioso e mais claro. Parecia que na quinta as aves cantavam mais. Apenas D. Benito ficára, «por amor al niño de la señora marqueza», protestava, mas porque se afeiçoára ás sombras frescas, onde dormia. André foi crescendo livremente entre os creados e D. Benito.

André não se aventurava a puxar pela batina enodoada do conego, quando elle dormitava no jardim: limitava-se a gritar de longe, e quando D. Benito sobresaltado acordava e voltava para elle a face gorda, André corria a esconder-se no regaço virginal da miss, que se fingia severa: Aoh! Naughty boy! Very naughty boy. What did you do to D. Benito?

O marquez disse-lhe que ia ter outros mestres, pois não podia ficar a saber apenas o latim, as vagas e erroneas noções de coisas que lhe dera D. Benito e as poeticas baladas de miss Lucy.

Mas não gostava do conego, porque, em o apanhando nas correrias do costume pelo jardim, logo o prendia entre os joelhos e o fazia recitar, durante muito tempo tantos rosarios d'Avés, padrenossos, de credos, salve rainhas, actos de contricção que André chorava no fim. E D. Benito alegrava-se, dizia que era o Diabo que fugia do corpo del niño.

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