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A academia poz luminarias; restabeleceu-se a paz publica. Entretanto, a bella Kinnara tinha um plano engenhoso e secreto. Uma noite, como o rei examinasse alguns papeis do Estado, perguntou-lhe ella se os impostos eram pagos com pontualidade. Ohimé! exclamou elle, repetindo essa palavra que lhe ficara de um missionario italiano. Poucos impostos têm sido pagos.

Eu não quizera mandar cortar a cabeça aos contribuintes... Não, isso nunca... Sangue? sangue? não, não quero sangue... E se eu lhe der um remedio a tudo? Qual? Vossa Magestade decretou que as almas eram femininas e masculinas, disse Kinnara depois de um beijo. Supponha que os nossos corpos estão trocados. Basta restituir cada alma ao corpo que lhe pertence. Troquemos os nossos...

De noite, acabadas as festas, sussurrou-lhe ao ouvido a bella concubina: Meu joven guerreiro, paga-me as saudades que curti na ausencia; dize-me que a melhor das festas é a tua meiga Kinnara. Kalaphangko respondeu com um beijo. Os teus beiços têm o frio da morte ou do desdem, suspirou ella. Era verdade, o rei estava distrahido e preoccupado; meditava uma tragedia.

Lepida e scintilante, deixou o seu vaso physico e penetrou no corpo de Kinnara, emquanto a d'esta se apoderava do despojo real. Ambos os corpos ergueram-se e olharam um para o outro, imagine-se com que assombro. Era a situação do Buoso e da cobra, segundo conta o velho Dante; mas vede aqui a minha audacia.

Ninguem podia absolver uma acção tão crúa e feia; alguns chegavam mesmo a duvidar do que viam... Uma pessoa approvou tudo: foi a bella Kinnara, a flôr das concubinas regias. Mollemente deitado aos pés da bella Kinnara, o joven rei pedia-lhe uma cantiga. Não dou outra cantiga que não seja esta: creio na alma sexual. Crês no absurdo, Kinnara. Vossa Magestade crê então na alma neutra?

Outro absurdo, Kinnara. Não, não creio na alma neutra, nem na alma sexual. Mas então em que é que Vossa Magestade crê, se não crê em nenhuma d'ellas? Creio nos teus olhos, Kinnara, que são o sol e a luz do universo. Mas cumpre-lhe escolher: ou crêr na alma neutra, e punir a academia viva, ou crêr na alma sexual, e absolvel-a. Que deliciosa que é a tua boca, minha doce Kinnara!

Kalaphangko riu muito da idéa, e perguntou-lhe como é que fariam a troca. Ella respondeu que pelo methodo Mukunda, rei dos Hindus, que se metteu no cadaver de um brahamane, emquanto um truão se mettia no d'elle Mukunda, velha lenda passada aos turcos, persas e christãos. Sim, mas a formula da invocação? Kinnara declarou que a possuia; um velho bonzo achára copia d'ella nas ruinas de um templo.

Creio na tua boca: é a fonte da sabedoria. Kinnara levantou-se agitada. Assim como o rei era o homem feminino, ella era a mulher mascula um bufalo com pennas de cysne.

Kinnara, tornando ao seu, teve a commoção materna, como tivera a paterna, quando occupava o corpo de Kalaphangko. Parecia-lhe até que era ao mesmo tempo mãi e pai da creança. Pai e mãi? repetiu o principe restituido á fórma anterior. Foram interrompidos por uma deleitosa musica, ao longe. Era algum junco ou piroga que subia o rio, pois a musica approximava-se rapidamente!

Realmente, disse Kalaphangko, isto de olhar para mim mesmo e dar-me magestade é exquisito. Vossa Magestade não sente a mesma cousa? Um e outro estavam bem, como pessoas que acham finalmente uma casa adequada. Kalaphangko espreguiçava-se todo nas curvas femininas de Kinnara. Esta esteiriçava-se no tronco rijo de Kalaphangko. Sião tinha, finalmente, um rei.

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