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O Infante D. Pedro estava em Camarate como disse, e sabendo que a ida do conde seu sobrinho á cidade nas revoltas d'ella não aproveitara, desejando poelas em assessego se foi ; e no mosteiro do Carmo onde pousou fez logo ajuntar os principaes da cidade com os officiaes da Camara, e com a cara grave e palavras de grande autoridade sustancialmente os reprendeu de suas uniões e alevantamentos, com que faziam doésta á Rainha e a elle e a todolos que tinham cargo de reger por El-Rei o reino; e que por isso tinham merecido aspero castigo, e o mereciam maior se o não atalhassem; e que, se sobre aggravos que tivessem recebidos queriam requerer suas liberdades e direito, que o fizessem por outra maneira como subditos, e que seriam bem ouvidos; e não com presumpção de superiores, de poer e despoer Regedor á sua vontade, como diziam, tocando-lhe sobr'isto muitas e notaveis razões conformes a este proposito, as quaes alguns tomaram que não sahiram verdadeiramente de sua vontade; porque tinham concebido que lhe não pesava de semelhantes movimentos por serem contra o Regimento da Rainha e com fundamento de elle o ter; mas a determinação d'este juizo fique sómente a Deus que o soube.

Avendo jaa hum anno, e sete mezes, que ha concordia antre ElRei, e ho Ifante era feita por algumas cauzas, e razoens, que alegou da minguoa de Justiça, e outros defeitos, que dizia aver no Regno, lhe pedio, que pera remedio de tudo fizesse, e quizesse fazer Cortes, has quaaes ElRei por nom aver dellas tanta necessidade quizera escuzar, em fim por satisfazer aho Ifante, e assi pera notifiquar ahos fidalgos, e poovos hos aggravos, e nojos, que do Ifante depois de suas avenças recebera, prouve-lhe fazelas em Lixboa pera onde chamou seus poovos, como em taal cazo hee costume, onde tambem foi ho Ifante, e ho dia em que se ouve de fazer ha fala pubriqua, e proposiçaõ costumada, ElRei mãdou dizer aho Ifante, que viesse aas Cortes pera nellas estar como ha elle em taal auto convinha, e ho Ifante se escuzou fazelo, e de tantas delongas, e sem razoens uzou aacerqua desso, que ElRei ouve por beem cometelas seem elle, e porque ElRei vio que ho Ifante em todo se desviava do que lhe tinha jurado, e prometido porque ho Conde D. Pedro seu filho, era pessoa de grãde credito aacerqua do Ifante, e tinha grande caza lhe dice: «Que se lembrasse da menagem, e juramento, que em Pombal fizera, e que hos nom quebrasse, nem fosse por algum respeito contra seu serviço». E esto lhe dise por alguns alevantamentos, que no Ifante jaa sentia.

O Infante D. Pedro por recados e cartas da Rainha e do Priol que foram tomados e trazidos a elle dos portos que se guardavam, foi certificado como procuravam metter gentes d'armas de Castella em Portugal, e bastecer as fortalezas que sustinham sua voz com armas e mantimentos de fóra, e assi se fazerem alguns alevantamentos no reino contrairos a seu Regimento, para que soube certo que em uma parte e na outra se faziam trigosos percebimentos, e consirando camanho dano se seguiria a dar-se logar a isso, e não se atalhar, determinou com accôrdo dos Infantes, com quanto era entrada de inverno, de logo se poer cêrco ao Crato e ás outras fortalezas do Priol, e cobra-las por força ou partido, como mais fôsse possivel.

ElRei D. Diniz lhe dice, que ha ElRei D. Fernando elle lhe gradecia muito seu convite, e assi ho offerecimento de suas Villas, e Castellos, de que lhe rogava, que ho ouvesse todo por escuzado, e que por escuzar alguns boliços, e alevantamentos de suas gentes com has de Castella, elle nom esperava de pouzar em Villas, e povoaçoens, antes ho mais alongado dellas que podesse, pera que levava muitas, e booas tendas, em que se alojaria.

E a Rainha crendo que aproveitaria sua desculpa, escreveu logo sobre aquelle caso mui graciosamente á cidade, certificando-lhe o contrairo do que tinham concebido; e encommendando-lhes sua paz e assessego com grande instancia, e com sua crença a Pedro Annes, o qual com quanto em camara dissesse além da carta da Rainha muitas razões e causas para desfazerem suas maginações e cessarem de seus alevantamentos, não aproveitou nada: e com tudo responderam á Rainha «que a causa dos receios e alvoroços que tinham, os seus principalmente os faziam, affirmando e divulgando cousas para assi ser; que os mandasse castigar, e tudo cessaria».

Os cidadãos, depois de ouvido o Infante, lhe responderam mui mansamente, tendo-lhe em mercê aconselha-los bem; e d'es-hi asolvendo-se como melhor podéram dos alevantamentos passados, especialmente no caso dos varejos, em que houveram respeito a não serem os mercadores da cidade pela execução d'elles destruidos, e assi em quererem áquelle escrivão, que persumiram ser inventor, dar tal castigo, que outros por seu exemplo semelhantes cousas não inventassem, pedindo ao Infante que em seus trabalhos e aggravos os quizesse ajudar e favorecer, obrigando-o para isso com razões assaz honestas e boas.

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