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E estes acabaram depois em serviço da Rainha suas vidas em Castella, e assi os ditos D. Affonso e D. Fernando, e o Priol do Crato, que no Agosto seguinte falleceram em Çamora. Alguns moradores do Crato e principaes, comquanto alli estavam sobjeitos ao Priol, eram porém servidores secretos do Regente.

Acabado o saimento, assi como alli eram juntos, assim se foram todos a Torres Novas, onde por dar logar que alguns alcaides e outras pessoas acabassem de vir, para fazer as menagens e dar a obediencia a El-Rei, sem se começarem as côrtes se passaram alguns poucos dias: nos quaes por meio principalmente de Vasco Fernandes Coutinho, marechal, que depois foi primeiro conde de Marialva, foram liados por juramento contra o Infante D. Pedro casi todolos fidalgos do reino, em que entravam, por mais principaes, o Arcebispo D. Pedro, e D. Sancho seu irmão, e o priol do Crato D. Frei Nuno de Goes; os quaes juntos secretamente em uma egreja, o marechal, como quer que outros hi estivessem de mór valor e auctoridade, elle para os mais commover a seu proposito, porque tinha para isso audacia, lhe fez uma falla com largas razões, cuja sustancia foi: «Que o regimento do reino e criação d'El-Rei e seus irmãos por disposição do testamento d'El-Rei ficára, como sabiam, que não saisse do poder da Rainha; o que elles deviam requerer e procurar que se cumprisse; assi por ser razão, como por a Rainha ser mulher estrangeira, da qual por se mostrarem em favor de seu serviço e tenção sempre receberiam honra, favor, mercê e acrecentamento; e por isso deviam trabalhar que não viesse em maneira alguma ao Infante D. Pedro, de cujos rigores e mostranças suas falsas, que fazia ao povo, de justo e conciencia, não podiam receber se não o contrairo; e que isto lhes seria facil de fazer; porque por parte do Infante D. Pedro, quando muito podesse ser, seria povo e gente meuda, que sem cabeceiras não teriam forças nem dariam ajuda, e que por a sua d'elles eram os que estavam presentes com outros muitos que logo seriam com elles; e mais cria do Infante D. Anrique, e sabia do conde de Barcellos, que seriam em sua ajuda, pedindo-lhe em conclusão, que o houvessem todos assi por bem, e o affirmassem, e segurassem com juramento

Para que logo mandou perceber o reino, que a isso não foi negligente. E encommendou-se o cerco e tomada do castelo de Beluer a Lopo d'Almeida, que depois foi por El-Rei feito primeiro conde d'Abrantes, e assi que tomasse e segurasse os celleiros das terras chãs do Priol.

Como o Infante D. Anrique procurou de trazer o Priol do Crato a serviço e prazer do Infante D. Pedro, e do que n'isso passou

Sendo a Rainha e o Priol atalhados para dos logares vizinhos nem do reino não haverem mantimentos, e assi sentindo o engano que de seus alliados em seu movimento receberam, não ficou aberta outra porta d'esperança, de soccorro e provisão senão a de Castella.

Mandou o Regente outrosi em nome d'El-Rei fazer e pôr editos publicos, com pena de morte e perdimento de bens, a todos aquelles que estivessem no Crato e nas fortalezas do Priol, se dentro de dez dias não se sahissem, salvo as vinte pessoas á Rainha ordenadas, e assi com promessa de perdão de todos os casos aos que a El-Rei logo se viessem.

O Priol do Crato assi como determinou de receber a Rainha em suas terras, assi ordenou logo d'abastecer, o mais encobertamente que pôde suas fortalezas, e a Rainha mandou a todoslos seus, e assi a outros d'El-Rei em que tinha confiança, que se percebessem de cavallos e d'outras cousas necessarias para caminho, e a verdade d'este fundamento era para esta sua partida; como quer que ella fingidamente dava a entender que os percebia para a acompanharem até o mosteiro da Batalha, onde queria fazer o saimento a El-Rei seu marido, para que dessimuladamente mandou fazer algum percebimento.

E como quer que Frei João não pôde em sua presença afrouxar a tenção da Rainha, porém porque ella era de bom siso e mui são proposito, fizeram depois suas palavras no coração d'ella tamanha casa, que assentava em sua vontade não se partir, pesando-lhe muito da palavra que dera aos filhos do Priol.

Veiu Fernão de Goes a Santarem, e offereceu a embaixada falsa de seu pae por sua crença ao Regente, mostrando quere-lo desculpar do passado, offerecendo-se em todo o que estava por vir ao que elle mandasse, e pediu logo ao Regente licença para ir fallar á Rainha; porque lhe queria dizer o em que ficava com elle, e assi lhe pedir que d'hi em diante nas cousas que fossem contra vontade e serviço do Infante, ella não se quizesse servir do Priol seu pae, nem d'elles seus filhos, salvo nas cousas em que os Infantes a servissem.

Exceptuando alguns poucos a que expressamente o tal perdão não se estendia, em que entrava o Priol e seus filhos.