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Do alvoroço que se seguiu contra a Rainha pela execução dos varejos de Lisboa

Partiu-se logo o conde para Lisboa com a trigança que se requeria, onde chegou á tarde, e para haver melhor informação das cousas, e ter conselho sobre o remedio d'ellas, quizera repousar algum pequeno espaço de tempo sem n'ellas intender; mas ao outro dia por sua ida foi tanto o alvoroço e desacordo na cidade, e com tanta soltura de palavras deshonestas e mostranças de desobediencia, que o conde não sabia que caminho de remedio tomasse; porque os da parte da Rainha favoreceram-se com sua ida, affirmando em seu favor que era para fazer justiça dos alevantadores da união sobre o caso dos varejos, e que contrariavam o Regimento da rainha: e os da parte do Infante D. Pedro e Infante D. João com muitos da cidade, que eram d'outro acordo, tomaram receio de ser por ventura verdade; especialmente porque um Luiz Gonçalves, official na relação, criado de Pedro Anes Lobato, e que ás cousas da Rainha havia grande affeição, affirmou de praça que por a ida do conde á cidade cedo veriam por justiça as gigas da ribeira cheias de pés e mãos de muitos, como de pescado, o que logo se soltou publicamente: e por ser homem d'algum credito e ter officio na casa da justiça, fizeram para isso suas palavras alguma impressão e crença; e pareceu que as não diria sem ter alguma cousa d'isso sentido.

Assim, não sómente em virtude dos regulamentos existentes, mas tambem pelas indicações da experiencia, o unico meio de fiscalisação para taes impostos é o methodo dos manifestos combinados com os varejos dados nas lojas de retalho. O systema do imposto das barreiras, como existe em Lisboa, é o que propriamente corresponde aos direitos chamados em França d'octroi et d'entrée.

Este e outros actos, como, por exemplo, a mercê que D. Leonor fizera a Nuno Martins da Silveira, aio do rei, dos varejos a que os mercadores de Lisboa eram obrigados de sete em sete annos, irritaram profundamente os partidarios do infante, entre os quaes eram numerosos os homens do povo.

Os cidadãos, depois de ouvido o Infante, lhe responderam mui mansamente, tendo-lhe em mercê aconselha-los bem; e d'es-hi asolvendo-se como melhor podéram dos alevantamentos passados, especialmente no caso dos varejos, em que houveram respeito a não serem os mercadores da cidade pela execução d'elles destruidos, e assi em quererem áquelle escrivão, que persumiram ser inventor, dar tal castigo, que outros por seu exemplo semelhantes cousas não inventassem, pedindo ao Infante que em seus trabalhos e aggravos os quizesse ajudar e favorecer, obrigando-o para isso com razões assaz honestas e boas.

Acrecentou mais este escandalo contra a Rainha, e para a maior parte do povo soltamente contrariar seu Regimento, passar uma carta em nome d'El-Rei, porque fazia mercê a Nuno Martins da Silveira, seu aio, dos varejos a que os mercadores de Lisboa eram obrígados de sete annos, cuja publicação e esperança de execução aos ditos mercadores causou tanta tristeza e sentimento, que certificados de suas perdições, se se executassem, se soccorreram á camara da cidade, e com palavras em que moviam todos a piedade para si mesmos, e com muitas razões que pareciam de serviço d'El-Rei e bem do reino, lhe pediram que com a Rainha e com o conselho, ou por outra qualquer maneira a tal mercê impedissem.

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