Vietnam or Thailand ? Vote for the TOP Country of the Week !
Atualizado: 16 de julho de 2025
Tambem guardo de pequenina esta impressão: a vontade que tinha de beijar, sem ter ninguem a quem dar beijos. Todos os que eu conhecia eram hirtos. Vou vêr se me lembro bem... Primeiro é tudo confuso: depois vae-se espancando a nevoa e eu recordo a triste existencia do Asylo. Noite ainda nos erguiamos para resar. Tocava um sino. Mal sabiamos andar, tropegas como velhinhas.
O convento ia-se despovoando a pouco e pouco, como que tornando-se maior, á medida que as vélhinhas, uma a uma, iam sahindo, para não mais voltar, a tomar o seu modesto logar no cemiterio público. Manoela era agora a cabeça que por todos pensava, a alma e a energia que sustentava aquelle resto de vida conventual, dando-lhe uma aparencia de cohesão, que não tinha.
E não sei quê de amargo, de reflectido, de soffrimento, de experiencia da vida. Brincavam sem risos pelos cantos, com bichos, com pedrinhas. Uma vez uma disse alto: Ó mamã!... E foi um escandalo. Onde aprendera ella, que não tinha mãe a pronunciar aquella palavra? Quereis crer? Só tenho esta imagem: pareciam velhinhas recolhidas, tristes por não terem filhos.
O tempo fôra passando, e os cavallos cada vez choutavam menos, coxeavam mais, mais brancos, mais tisicos, mais dolorosamente meditabundos; o cocheiro mais corcovado, um pouco descahido na almofada, deixava pender o chicote; a carruagem tinha na frente umas tiras de papel sobre um vidro rachado; cordas, a que todos os dias se juntava um nó, ligavam os arreios; as velhinhas tinham menos palhetas doiradas no olhar, quando me sorriam.
Todas as tardes, quando o azul no alto do céu começava a desmaiar, ou já a enlutar-se nas pregas, pouco a pouco, serenamente accumuladas pela neblina da noite, recolhia a casa, aos solavancos sobre as pedras da calçada, a carruagem das velhinhas.
As outras pobres dellas! já não teriam na morte esse mesmo abrigo sagrado e seriam relegadas a mãos estranhas e indiferentes, esquecidas nesse campo desabrigado e devassado por todos os olhos profanos, que eram os novos cemiterios. As velas tremiam nas mãos enrugadas das pobres vélhinhas.
Tão velhinhas, tão longe d'este mundo nem gritos já tinham para se lamentar. Era um correr de lagrimas, sem soluços nem febre, um resignado soffrer de pallidos phantasmas. Por suprema ironia das coisas humanas, até o enterro foi causa de riso.
E eu encostava aos vidros da janella a testa ardendo com febre, para ver a passagem d'aquellas duas velhinhas sympathicas, irmãs decerto, gemeas talvez, tão eguaes, com os cabellinhos bracos alisados sobre as testas enrugadas, as boccas reentrantes, os olhinhos apagados, tremulas, encolhidas como passarinhos com frio, com os mesmos fatos de luto, o mesmo ar tranquillo, o mesmo sorriso de bondade.
Boas velhinhas, minha paixão unica, minha esperança d'um dia inteiro, quando eu vivia isolado com a minha melancolia, n'aquella casa onde o vento soprava tristezas, onde o sol nunca entrou e onde as corujas riam de noite!
Creio que as velhinhas, n'uma doce, apagada recordação de galanteios havia muito passados, adivinharam o meu amor, e olhavam para mim, risonhas, fazendo renascer faiscas nos olhos côr de cinza, que um sorriso bordava com ondas de preguinhas por cima das rugas!
Palavra Do Dia
Outros Procurando