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Atualizado: 6 de junho de 2025
D'ahi lhe vinha ser «parente, patricio e parceiro» do homem das Lapidarias. Depois d'isto Vidigal sabia apenas que Fradique, livre e rico, sahira do Quartier-Latin a começar uma existencia soberba e fogosa. Com um impeto de ave solta, viajára logo por todo o mundo, a todos os sopros do vento, desde Chicago até Jerusalem, desde a Islandia até ao Sahará.
Pude então, á vontade, contemplar o cinzelador das Lapidarias, o familiar de Mazzini, o conquistador das Duas-Sicilias, o bem-adorado de Anna de Léon!
E o ultimo companheiro da minha mocidade que se relacionou com o antigo poeta das Lapidarias foi J. Teixeira d'Azevedo, no verão de 1877, em Cintra, na quinta da Saragoça, onde Fradique viera repousar da sua jornada ao Brazil e ás republicas do Pacifico. Tinham ahi conversado muito, e divergido sempre.
Sem me decidir, pensando em Novalis que tambem assim hesitava, enleado, ao subir uma manhã em Berlim as escadas d'Hegel perguntei a Vidigal se o poeta das Lapidarias residia em Lisboa... Não! Fradique viera de Inglaterra visitar Cintra, que adorava, e onde comprára a quinta da Saragoça, no caminho dos Capuchos, para ter de verão em Portugal um repouso fidalgo.
Descobrira, surprehendido, largas folhas de versos, n'uma tinta já amarellada. Eram as Lapidarias. Lêra a primeira, a Serenada de Satan aos astros. E, maravilhado, pedira a Fradique para publicar na Revolução algumas d'essas estrophes divinas. O primo sorrira, consentira com a rigida condição de serem firmadas por um pseudonymo. Qual?... Fradique abandonava a escolha á phantasia de Vidigal.
Assim diz Fradique. Ora este «exame inedito das coisas humanas», só possivel, segundo o poeta das Lapidarias, ao Adão renovado que regressasse da Patagonia com o espirito escarolado do pó e do lixo de longos annos de Litteratura tentou-o elle, sem deixar os muros classicos da rua de Varennes, com incomparavel vigor e sinceridade. E n'isto mostrava intrepidez moral.
De manhã apurei requintadamente a minha toilette como se, em vez de Fradique, fosse encontrar Anna de Léon com quem já n'essa madrugada, n'um sonho repassado de erudição e sensibilidade, eu passeára na Via Sagrada que vai de Athenas a Eleusis, conversando, por entre os lyrios que desfolhavamos, sobre o ensino de Platão e a versificação das Lapidarias.
E ainda o torpe som não morrera, já uma afflicção me lacerava, por esta «chulice» de esquina de tabacaria assim atabalhoadamente lançada como um pingo de sêbo sobre o supremo artista das Lapidarias, o homem que conversára com Hugo á beira-mar!... Entrei no quarto atordoado, com bagas de suor na face.
Elle não considerava assignaveis esses pedaços de prosa rimada, que decalcára, havia quinze annos, na idade em que se imita, sobre versos de Lecomte de Lisle, durante um verão de trabalho e de fé, n'uma trapeira do Luxemburgo, julgando-se a cada rima um innovador genial... Eu acudi affirmando, todo em chamma, que depois da obra de Baudelaire nada em Arte me impressionára como as Lapidarias!
Fradique sentára-se, recebendo, de Jove e da Nympha que passavam, um sorriso cuja doçura tambem me envolveu. Vivamente puxei a cadeira para o poeta das Lapidarias: Quem é este homem? Conheço-lhe a cara... Naturalmente, de gravuras...
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