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Atualizado: 18 de julho de 2025


Pouco indulgente com a sensualidade, porventura deshumanamente rigoroso com os seus impulsos, a solidão e a vida rural não seriam para Alexandre Herculano isenção de fadigas physicas e desenlace d'aspirações naufragadas, adormecimento de mágoas e repouso n'uma animalidade cuidada, bem mantida, satisfeita e robusta. Não seriam uma festa lauta dos sentidos, por demais castigados da escuridão da cidade, mas uma devoção gratissima do espirito desonerado de temporalidades que o mortificavam, tão pesadas pelo tumulto e pressão ininterrompida, como estereis pela inanidade das consequencias moraes. Amando o ermo e procurando-o, não o chamava a delicia pagã; se tanto lhe queria, era por obediencia religiosa, porque alli melhor interpretava e cumpria a vontade do Senhor. O sentimento da alegria e equilibrio no pulsar livre da natureza, a contemplação da harmonia e belleza das formas que por si vivem como divindades independentes e distinctas, por excepção prenderiam Herculano.

Mas tambem em Portugal, assim como o feudalismo medievico não se fez sentir com a intensidade que teve no centro da Europa, a ponto de levar Herculano a negar que elle existisse entre nós, do mesmo modo o novo feudalismo, o do capital, nunca se manifestou na sociedade portugueza senão extremamente attenuado, não se fundando a grande industria, a não ser excepcionalmente, e não havendo as desegualdades de fortuna tão accentuadas que se vêem n'outros paizes.

Alexandre Herculano, parece-nos ser licito dizer, que o esforço e constancia dos portuguezes e do seu principe n'esta conjunctura é um dos mais bellos exemplos d'aquella energia moral, de que tão rica era a idade media, e a troco da qual a Europa moderna tem ido comprando a brandura do trato entre os homens, e os commodos da civilisação.

Como Camões, foi simultaneamente poeta e soldado. O principe dos prosadores tem muitos pontos de contacto com o principe dos poetas. Camões combateu na Africa e na Asia em prol da patria; Herculano pelejou no cêrco do Porto a favor da liberdade. Camões esteve desterrado em Macau; Herculano viu-se obrigado a emigrar para se esquivar ás perseguições do governo absoluto de D. Miguel.

Herculano escreveu isto, que parece uma blasphemia pavorosa «O espirito de Deus passou pelo meu espirito e disse-me: vae, e faze, resoar nos ouvidos das turbas palavras de terror ...» é que naturalmente Deus era tambem cartista. E assim rompe um livro, tendo por base a mancommunação de um Deus e de um propheta, conchavados para espancarem patuleas a cacetadas de biblia e de rhetorica!

O segundo dos cidadãos que passaram no mundo sob o nome de Alexandre Herculano é simplesmente o illustre solitario de Valle de Lobos. Extranha evolução d'um mesmo ser!

O que é certo é que Herculano examinava com a mais profunda attenção tudo quanto escrevia, empregava todos os meios de não falsear a historia, tudo sacrificava ao amor da verdade, fazia fallar os factos, não enchia a historia de generalizações falsas, intempestivas e absurdas; tudo quanto dizia firmava-se em documentos que elle criticava com a maior severidade e de cuja authenticidade estava profundamente convicto; não fazia syntheses que não se estribassem na mais profunda e rigorosa analyse.

A historia da philosophia, diz Herculano, é a historia de um edificio começado ha milhares d'annos em que um seculo revolve os fundamentos que outro lançou, para lançar os seus, os quaes egualmente são revolvidos pelo seculo seguinte, cujos trabalhos condemnará o que vier após elle.

Herculano era da maxima tolerancia para com aquelles cujas opiniões divergiam das suas; não admittia restricções para a livre manifestação do pensamento.

E se Alexandre Herculano entrou em 1840 no parlamento foi o homem de lettras que levou pela mão o deputado.

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