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N'um dos mais bellos contos de Theophilo Braga, A adega de Funck, n'aquelle dialogo entre o visionario e o amigo, achamos sempre um novo, melancholico e precioso sabor. Baseia-se o conto n'aquelle amor do artista pela novidade dramatica e singular que apresentam certas peripecias vulgares da vida real.

Depois de affeito á sombra, Hoffmann pôde discriminar grandes toneis dispostos, como uma longa fila de cachaci-pansudos conegos. Era a adega do seu amigo Funck. De facto havia ali uma temperatura tepida, de fermentação. Nenhum olhar importuno através da abobada calada. Se os velhos patriarchas, principalmente nosso pae Noé, não trocariam de boa vontade a tua adega pelo seio de Abrahão!

Era um quadro com toda a verdade e simplicidade de Teniers, como o proprio Funck, em uma nota de uma edição do seu amigo, confessa com aquella ingenuidade allemã. Hoffmann ficou deslumbrado com o fulgor instantaneo; tinha a mudez do terror. Em que pensas? Um conto, um conto horrivel! Mais uma saude, e narra-me essa historia ponto por ponto.

Hoffmann estava animado de uma alegria indisivel; era um homem de extremos; a sensibilidade excessiva deixava-lhe apreciar os mais desapercebidos contrastes, era por isto que elle possuía mais do que ninguem o genus irritabile vatum. Mal acabava de proferir aquellas palavras, quando se atirou de um salto, com uma loucura de criança, e se escarranchou em um tonel. Funck seguiu o exemplo.

O seu editor Funck, homem estimavel de caracter, a quem a especulação não poz em guerra com os que têm a infelicidade de precisar escrever, convidou-o para passar alguns dias na sua residencia em Bamberg.

Segue-me. Funck caminhava adiante com um ár victorioso. Hoffmann sorria-se com um modo duvidoso, para que o riso o defendesse do logro que esperava. Desceram uma escadaria escura; uns ferrolhos pesados gemeram, como se se abaixasse uma ponte levadiça. Entraram. Era um subterraneo fundo, allumiado por um lampadario de bronze.

Funck tinha o mais excellente de todos os vinhos, como lhe chamava Hoffmann, o Porto, que no seu nome traz o segredo da sua força. O escriptor original era esperado com anciedade em Bamberg. Chegou por uma tarde fria. O céo estava escuro, carregado de nuvens; relampejava a espaços, como o preludio de uma grande trovoada nocturna.

N'isto um trovão rebentou com um estampido soturno. A natureza, disse elle para Funck, escarnece-se de mim, parodia-me a voz roufenha. Ha bastantes dias que tenho sentido humor para o romantico religioso. Jovis omnia plena! Hoje, não sei se é o excesso da alegria, predomina em mim uma exaltação humoristica levada até á idéa da aberração.

O sacrificio de um pae ficava supplantado pelo sacrificio a uma geração inteira! Odio de inglez A adega de Funck Uma das idéas de que todo o bom artista se possue fortemente, foi de que Hoffmann, apesar da extravagancia das suas composições, não inventava totalmente os typos singulares da sua grotesca e terrivel galeria.

Funck tinha uma magnifica adega e lembrava-se perfeitamente d'aquellas expressões de Hoffmann: «Fala-se muito do enthusiasmo que procuram os artistas no uso das bebidas fortes; citam-se musicos, poetas que não podem trabalhar senão assim; eu não sei, mas é certo que com esta feliz disposição, direi, quasi sob a constellação favoravel, em que se está quando o espirito passa da concepção á realisação, as bebidas espirituosas acceleram a torrente das idéas

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