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D. João Quijano, rico banqueiro que morava na rua de Toledo, estava no seu escriptorio, situado nos baixos da casa, com seu sobrinho D. Lucas, e n'uma sala contigua trabalhavam em silencio, sentados ás suas carteiras, dois caixeiros encarregados da contabilidade e da correspondencia.

E os caixeiros de Quijano a escarnecerem-n'o, a rirem-se d'elle, sem a mais leve sombra de compaixão, como se a pobre creança fosse um corpo sem alma, como se a considerassem sem coração para sentir!

Alguns mezes haviam decorrido depois do dia em que Angelo escapou, por milagre, de morrer ás mãos de D. Lucas. Era por uma aprazivel manhã de primavera. A sala de jantar de D. João Quijano tinha uma janella, que olhava para o norte. Em quanto o banqueiro e sua mulher tomavam chocolate na sala, Angelo fôra para a varanda, e ali se conservava, com a vista immovel e fixa na direcção do seu paiz.

Dois ou tres dias depois da famosa caçada, estavam no gabinete de D. João Quijano, palestreando junto do fogão, o banqueiro, seu sobrinho D. Lucas e quatro ou cinco amigos intimos da casa. Fóra, no escriptorio, trabalhavam em silencio os caixeiros e com elles Angelo, cujas côres rosadas iam pouco e pouco desapparecendo, e cuja tristeza era cada vez mais profunda.

Dormia toda a familia de Quijano no andar nobre da casa, á excepção do caixeiro mais moderno e dos cães, que se acommodavam no pavimento terreo, destinado quasi exclusivamente ao escriptorio e suas dependencias.

Ai! não accuseis o auctor d'este livro de se entregar a falsas declamações; a justificação d'essas palavras conserva-a elle impressa na sua memoria propensa a recordar, e no intimo do seu coração sempre disposto a perdoar, para nunca mais saír d'ali. Durante a primeira tarde, que passou em casa de D. João Quijano, foi Angelo victima da selvageria, que estou condemnando.

Os caixeiros, e bem assim D. Lucas, levantaram-se effectivamente muito cedo, mas não foi para ouvir missa. Bem se importava D. Lucas com a missa, quando se tratava de caça que era o seu divertimento favorito! O sobrinho de Quijano marcou tarefa a cada um dos rapazes.

Estão ás suas ordens, snr. D. Lucas. E quanto lhe hei de dar por elles? Dá-me aquillo que o senhor quizer. Está bom, ahi tem um duro, serve? Muito obrigado, snr. D. Lucas. O que eu desejo é que os senhores os comam com saúde. Até outra vez, se Deus quizer. Adeus, tio Lobo. O verdadeiro caçador tomou a dianteira aos caixeiros de Quijano.

D. Joanna, que entrára como creada e acabára por ser ama em casa de D. João Quijano, tinha o relogio atrazado, pois assegurava ter trinta annos, ao passo que a sua physionomia, e o que ainda é mais, a certidão do baptismo, lhe davam quarenta.

Pouco depois entraram na sala do jantar D. Lucas e os caixeiros e sentaram-se á mesa. Angelo porém conservou-se n'um canto, de cabeça baixa, receioso, e sem se atrever a levantar os olhos para D. Lucas. Chega-te para a mesa, selvagem, disse-lhe o sobrinho de Quijano. Parece-me que seria melhor ires outra vez guardar cabras para a tua terra.

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