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Esta confidencia é talvez esteril, mas urgente. 31 de dezembro de 1882. *Mello Freitas* *No Passeio Publico* A charanga transuda uma gavotte: Dois caturras discutem acirrados, E com bengalas corneas d'estoque Vibram politica em medonhos brados; Um coronel solemne, um D. Quichotte Exige a continencia d'uns soldados, E trauteando a polka da Mascotte Giram damas a passos alquebrados;

Ter ou não ter mascotte, eis a questão, para tudo e para todos. Não sei se o leitor é dado a superstições e crendices, que, de resto, constituem o fundo simples e primitivo da natureza humana. Eu, por mais que oiça dissertar os philosophos, creio profundamente em superstições. Sou, a este respeito, quasi primitivo.

Uma d'essas pessoas era o general José de Vasconcellos Correia, que morreu conde de Torres Novas. A sua mascotte era uma escova de fato, que o não abandonava jamais. Justamente, tendo de partir para Torres Novas, onde se assignalou pelo seu valor, esqueceu-lhe metter dentro da mala a escova. E, por não querer separar-se d'ella em tão duvidosa occasião, metteu-a dentro da barretina.

Como a bengala não tinha valor material, appareceria facilmente, ia dar as suas ordens, e eu prometti gratificar o policia que encontrasse a bengala. Sahi do commissariado de policia para ir dar umas voltas, tratar de negocios particulares. Mas tinha a convicção de que tudo me correria mal n'esse dia e nos outros, porque, ai de mim! havia perdido a mascotte. Era, moralmente, um homem morto.

Mas, o caso é que me lembrei do poema da Valsa, que, ai do poeta! ficou apenas em projecto. Tudo aquillo que eu tinha visto, no sabbado e no domingo, era como a valsa dos velhos extenuados, que, ao som da musica, iam cahindo mortos n'uma atmosphera de alegria e n'uma allucinação de prazer, que os matou sem os ter remoçado, que os esgotou sem os ter divertido! A mascotte

Em dias de chuva torrencial, dias de temporal desfeito, eu não ousava sahir sem a mascotte, importando-me pouco que as outras pessoas podessem fazer reparo na excentricidade de um homem que, apesar de chover a potes, deixava o chapeu de chuva em casa e sahia com a bengala debaixo do braço. Muitas vezes fui obrigado, por manter o culto devido á minha mascotte, a tomar um trem.

Mas fazia de bom grado essa despeza, nem me importava apanhar chuva, comtanto que não tivesse de largar a mascotte. Os meus amigos conheciam esta superstição, e riam-se. Fingiam querer roubar-m'a. Mas eu, se passava a noite com elles, sentava-me de bengala na mão, não a abandonava um momento. Um dia perdi-a. Vou contar como isso foi. O leitor póde imaginar o desgosto que n'esse dia me feriu.

Quando cheguei á rua de S. João da Matta, disse-me o correio que o ministro estava ainda almoçando, e que eu teria de esperar pelo menos meia hora. Despedi o trem, sem tomar sentido no numero. Chegaram mais pessoas, com quem esperei conversando. Quando o ministro acabou de almoçar, e me recebeu no seu escriptorio, lembrei-me subitamente de que a mascotte tinha ficado no trem.

A mascotte havia fugido, como uma alma abandona um corpo. O leitor póde sorrir-se da minha ingenua credulidade, mas eu cria cegamente na virtude d'esse talisman, que um acaso me trouxe, e que um acaso levou. Não ha philosophia que resista aos factos. De varias pessoas sei eu que tiveram mascotte, e que criam n'ella como em Deus.

Que boas horas de alegria que eu tive, readquirindo a posse da mascotte, a minha querida bengala! Nadando em jubilo, fui dizer ao commissario de policia que a bengala tinha apparecido. E á noite, contando a historia do feliz achado aos meus amigos, recebi parabens. Rodaram alguns annos, durante os quaes tive sobejos motivos para firmar a minha crença no condão maravilhoso da bengala.

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