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Á 1 hora, um vulto appareceu na esquina, approximando-se a passos ligeiros até chegar em frente ao domicilio do amanuense Bonifacio. Era o Jacyntho, que bateu pressuroso e baixinho em uma das janellas. Respondeu-lhe do interior um leve arruido.
Como acontece algumas vezes, a virtuosa esposa do sr. Bonifacio tinha seus adoradores, rapazes toleirões, aos quaes ella, diga-se a verdade, não ligava muita importancia. Entre esses moços, quem mais assiduamente a requestava era um tal Jacyntho, um leão conquistador que falava pelos cotovêllos, muito tolo, ignorante de tudo, excepto da arte do namoro atrevido. Este Jacyntho apaixonára-se por Elvira poucos dias depois do casamento d'ella, por occasião d'um passeio a Benevides. Desde essa época, o pobre namorado sem ventura passava todas as tardes pela casa do Bonifacio, quando Elvira ía para a janella, emquanto o marido, na varanda, jogava o sólo com o taberneiro da esquina e o visinho da direita. Ao passar em frente a Elvira, enviava-lhe um sorriso e um cumprimento. A esposa do honrado amanuense retribuía a este ultimo e conservava-se muito séria, muito digna, sem corresponder áquelle. Passavam os dias, passavam os mezes, e Jacyntho era pontual á entrevista, na qual Elvira já parecia interessar-se, pois que tambem não deixava de ir para a janella assim que, lá na varanda, o sr. Bonifacio, o taberneiro e o vizinho começavam no passo e no bólo.
D'então em deante, apezar d'esses receios continuaram as cartinhas a passar dos bolsos do Jacyntho para o seio d'Elvira e do seio d'esta para os bolsos d'aquelle.
Dou-te outro nickel se fôres levar uma carta á tua senhora, queres? Eu quero.... Jacyntho tirou do bolso uma carta que escrevera havia muito tempo e que, por cautella, não datára nem assignára. Entregou-a á mulatinha e conjuntamente outro tostão. Depois seguiu pela estrada adeante. Elvira não deu resposta áquella carta, que lhe revelára o grande amor que por ella sentia o Lovelace paraense.
Havia já alguns mezes que o amor dos dois não tivéra outras expansões além d'aquellas missivas platonicas. O temperamento de Jacyntho era mais exigente. Uma tarde de dezembro, o sr. Bonifacio descia do bond em frente de casa, de volta d'uma visita que fôra fazer a seu chefe de secção.
Jacyntho não era um homem que perdesse a paciencia. Assistia tranquillo a esse esperdicio de tempo, convicto do axioma que reza: "Agua molle em pedra dura, tanto dá até que fura." Tinha confiança no futuro, que resolvería, com vantagem, aquelle interessante problema de amor. Uma tarde, era em meiados de junho, passou o Jacyntho, devéras admirado por ver que a sua querida não estava á janella.
Jacyntho estremeceu de contentamento, pregosando os prazeres que ía fruir na conversação de Elvira, quando subitamente exhalou um grito, dando um salto para o lado. Era o respeitavel sr. Bonifacio, que saíndo de traz da mangueira onde occultára-se, desancava a bom desancar o peralvilho que tivéra a lembrança de namorar-lhe a mulher. Quando Jacyntho saltou para o meio da rua, recorreu o sr.
Finalmente, Elvira não pôde resistir mais, mandou-lhe uma carta toda cheia de temores, toda receiosa, na qual confessava que o Jacyntho não era-lhe indifferente, mas que devia abrir mãos áquelle amor, porquanto a sua "posição de mulher casada não lhe permittia tão gratas liberdades."
Quando cançou, quando os braços negaram-se a continuar, o honrado amanuense, despedindo olhares terriveis para todos os lados, disse ao Jacyntho, que achava-se por terra, com os ossos quasi moídos: Vá-se embora, seu tratante e tenha mais juiso! Não torne a caír na asneira de namorar moças casadas! E retirou-se para casa, a cuja porta entreaberta estava Elvira, tranzida de medo. Noite de finados
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