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E tentou córar aos cumprimentos forçados d'Antonino, que declarou admiraveis as formas. Quer vir á sala do jogo? Gosta do bacura? perguntou ella. Fará bem em ir, meu caro, disse repentinamente o dr. Despujolles surgindo ao lado d'elles. A nossa amiga Laura Linda, pela fórma como está jogando, arrisca-se a ficar arruinada esta noite.

Até d'uma occasião o visconde levantou os hombros n'um movimento rapido, como irritado por ella se esquecer por momentos do papel que desempenhava. Ao voltar ao seu camarim, Laura riu quando uma amiga lhe fallou d'Antonino. Apaixonado, aquelle?... Está enganada, disse ella. Será, quando muito, um amador, e com certeza um homem extraordinario.

Antonino ouvira muitas vezes a parte de Valentina cantada por Laura. D'antes, a Linda cantava aquelle dueto com o superior talento e virtuosidade que possuia, com vigor e expressão. Jámais, porém, a ouvira cantar com aquella paixão e embriaguez. N'outro tempo ella comprehendia, adivinhava. Agora sentia, recordava-se. No espirito d'Antonino passou como que uma hallucinação extranha.

Oito dias antes nem ella propria o sabia. Os diversos acontecimentos que successivamente se deram revelaram-lhe aquelle amor, que existia latente no seu coração. Primeiro o sacrificio d'Antonino surprehendera-a. Aquelle honesto e grave fidalgo bretão, rico e considerado, dera-lhe a mais irrefutavel prova de confiança e d'amor, offerecendo-lhe a sua mão e permittindo que ficasse no theatro.

O creado d'Antonino, de cada vez que o visconde não dormia em casa, dizia que elle ficava em casa de Linda. Os creados da cantora sempre que ella de manhã voltava para casa, pensavam que Laura tivesse passado a noite em casa do visconde. Geralmente Antonino voltava para o boulevard Haussmann ao amanhecer. Laura, porém, deixava o ninho a hora adiantada da manhã.

Escrevia o pae d'Antonino: Minha senhora: Não é o filho que lhe responde, é o pae, é o chefe da familia que a senhora abandonou tão bruscamente, tão cruelmente, e na qual deixou a desolação e o lucto. Esse chefe de familia não lhe dirigirá, comtudo, a mais leve censura, nem em seu nome, nem em nome do filho. Desejou ser livre para voltar para o theatro. Satisfez o seu desejo, está livre.

Singular indifferença essa! disse a cantora. O que o coração d'Antonino sentia era justamente o contrario da indifferença que Laura lhe suppunha. Tanto de dia como de noite o visconde pensava em Laura. Tornar a vel-a era o seu mais ardente, o seu unico desejo. Mas desejava tanto isso, que tremia. Era como um barril repleto de polvora temendo uma faisca. E não voltou á rua de Bolonha.

Lera tambem o telegramma de Lauretto Mina, que fôra como que um punhal a enterrar-se no coração d'Antonino. Seu filho acreditára no que dizia o telegramma. Que razão tinha o conde para não acreditar tambem? Mas, culpada ou não, Laura era a causadora unica da morte do seu filho. O conde não era juiz, era pae.

Pelas suas proprias mãos envolveu em algodão em rama os pulsos queimados da creada de quarto, emquanto não podesse ser feito outro tratamento, acompanhou-a ao quarto, deitou-a, e a deixou quando a viu adormecida. Voltou para junto d'Antonino. Até então podéra conter-se, mas a reacção veiu, por fim. Cahiu sobre um fauteuil e chorou, murmurando: Ah! que noite! que scena!...

A insolente interrupção de Lauretto Mina no momento em que o seu contentamento de mulher e de artista mais se expandia, tinha-lhe torturado o coração, demonstrando-lhe a impossibilidade d'acceitar o offerecimento inesperado d'Antonino, que n'um momento, sem hesitação, renunciava a todos os prejuizos d'educação e de familia.

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