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Atualizado: 4 de maio de 2025
E sentia-se bem, afinal. Tendo voltado ao hotel, e agora reclinado molemente numa poltrona modesta do seu quarto, o desabusado morgado de Mosteirô repassava mentalmente o seu expatriamento voluntário e iludia o tempo numa saborida evocação retrospectiva de gratas lembranças, de projectos, de sonhos, de scenas vividas, de prazeres, de desejos suspensos. Primeiro a Pátria; mas o intervalo ainda curto do seu distanciamento e o torvelinho de ineditismos ofuscantes que, desde a partida, o vinham assediando, não permitiam que o vinco nostálgico por enquanto se afirmasse na vibratilidade demasiado inquieta da sua alma; depois, aqueles tantos dias de bordo, essa deliciosa bambocha de pequeninas audácias, desilusões, surprêsas, flirts, intrigas, tédios e ridículos de raiva que era brisas e de gozos que eram espuma, correra-lhe um pano de olvído sôbre o passado; entre o que êle fôra, e o que era, haviam marcado uma eternidade e cavado um infinito. De Portugal, agora, queria lá saber! Apenas recordava, num desdêm superior, que aquilo lá devia ser uma maçada, com os carbonários a ditarem a lei, os conventos feitos quarteis, os novos sem religião, os vélhos sem garantias, e uma mania de escolas por tôda a parte, tudo muito malcriado e ninguêm conhecido. A seguir, recordou vagamente os dois irmãos. O que fariam êles?... Ainda o mais vélho, o José, advogadote rábula e manhoso, saberia tirar proveito dos conflitos jurídicos que, com a Rèpública, eram agora bastos como os cogumelos depois da chuva; mas o Bernardo, o mais moço, um pateta feito agrónomo
Convidou o Silveira a sentar-se e acercavase-lhe, solícito, insinuante. Sem dúvida era português? Pelo modo, pelo acento, via-se logo... Muito folgava! Êle era andaluz. Um pouco periodista e um pouco homem de negócios. Impingia-lhe o seu cartão de visita, impresso em tipo gasto e vulgar, modestamente. Ramón Alvarez, tout court. Mas, sôbre a caligrafia tôrpe dos caracteres, um empenachado elmo luzia heráldicamente, mais tôrpe ainda. Êle era duma família da mais antiga linhagem, família de cronistas, de poetas, de galans... e tivera sempre um grande fraco pelas letras. Tinha dois livros em preparação, uma novela e um poema épo-histórico, e tambêm um drama prestes a ser pôsto em scena pela Maria Guerreiro. Oh, os intelectuais! exclamou o incompreendido escriba, desarticulando o busto, rolando os olhos em êxtase e, num bravo arranque de entusiasmo, atirando a enormidade paradoxal da cabeça sôbre a nuca. São a flor por excelência, a suprema exaltação da terra! Infelizmente, êle vivia... viviam os dois, que lhe perdoasse se tomava a liberdade de o dizer... mas lá como cá... viviam numa peste de países de analfabetos, onde por via de regra os pensadores, os génios, os grandes eleitos do talento e do saber, morriam de fome. De sorte que, assim, havia que ser-se ao mesmo tempo um pouco prático. Que remédio! com enfado soberano rematou. E iludia o seu prosaico mistér de caixeiro viajante num vago eufemismo, dizendo «que vinha
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