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Atualizado: 16 de maio de 2025
Que importavam gelos, ventanias, feras? Peito nu, aberto; construção de touro! Quasi me admirava que nas primaveras D'esse peito rude não brotassem heras, Margaridas, lirios com abelhas d'ouro! Ao relento a cama no orvalhado pasto, Cerca dos carneiros e dos bons lebreus; Que divino leito primitivo e casto, Todo embalsamado de serpol, mentrasto, Sob a paz imensa do perdão de Deos!...
Aqui me abria os braços de veludo, a poltrona onde ella se assentava tantas vezes; ali a molle pegada do seu sapato, no coxim em que ella descançava os pés; acolá, resequidas, nos vazos chinezes, desfolhando-se tristemente, as flôres que ella amava; além, as cortinas que ella tantas vezes levantava com sua mão timida; ali, se move ainda o pendulo do relogio, para o qual ella estava olhando sempre; aqui, o véo d'ella, aqui as cartas, seus dôces reflexos; além, o pente embalsamado com o perfume dos seus cabellos; e acolá, finalmente, frio e cerrado como um tumulo, o leito onde tantas vezes chorávamos.
O ferro do assassino Podia, hoje, matal-a, que o meu peito Seria o esquife embalsamado e fino D'aquelle corpo sem rival, perfeito. Por isso é muito altiva e apetecida; E o goso sensual de a vêr vencida Ha de ser forte, extranho e singular... Como o das cousas dignas de castigo; Ou d'um amante sacerdote antigo, Derrubando uma deusa d'um altar.
Caiam-lhe algumas tranças desprendidas no fragor da dança, sobre os hombros alabastrinos, como n'uma travessura, como os cabellos de uma odalisca que se alevanta do banho embalsamado e tépido. Uma das rosas da sua grinalda caiu casualmente no chão. O olhar mais ardente e expressivo de uma mulher, não podia ser tão fatal como a queda d'aquella rosa.
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