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Bem sabes que elle é incapaz de mentir a seu amado pae, a quem deseja longa vida e todas as prosperidades possiveis." O fakih desatára de novo n'um rir trémulo e hediondo. Metteu a mão no peitilho da aljarabia e tirou uma a uma muitas tiras de pergaminho: pô-las sobre a cabeça e entregou-as ao kalifa, que começou a lêr com avidez.

O fakih deixou-o affastar, e fazendo um gesto de profundo despreso, murmurou: "Eu?! Eu teu cumplice, miseravel?!" Depois, alevantando ambas as mãos abertas para o ar, começou a agitar os dedos rapidamente, e rindo com um rir sem vontade, exclamou: "Pobres titeres!"

Abdu-r-rahman parecia inteiramente dominado pelo rude fakih, e, ao vê-lo, qualquer poderia ler no gesto do velho principe os sentimentos oppostos do terror e do affecto, como se metade da sua alma o arrastasse irresistivelmente para aquelle homem, e a outra metade o repellisse com repugnancia invencivel. O mysterio que havia entre ambos ninguem o podia entender.

Al-muulin falára verdade: Abdu-r-rahman via despregar diante de si a longa teia da conspiração, escripta com letras de sangue pela mão de seu proprio filho. Durante algum tempo o kalifa conservou-se como a estatua da dôr na postura que tomára. O fakih olhava fito para elle com uma especie de cruel complacencia.

E a colera e o despeito faiscavam-lhe nos olhos. Com a sua habitual impassibilidade o fakih proseguiu: "Esqueces-te, kalifa, da tua reputação de prudencia e longanimidade. Pelo propheta! Deixa divagar um velho tonto como eu ... Não!... Tens razão ... Basta! O raio que fulmina o cedro desce rapido do céu.

O guerreiro chamou-se desde esse tempo Al-gafir, e o povo denominava-o Al-muulin, o sancto fakih..." Como sacudido por uma corrente electrica, Abdu-r-rahman dera um pulo no almatrah ao ouvir estas ultimas palavras, e ficára sentado, hirto e com as mãos estendidas. Queria bradar, mas o sangue escumou-lhe nos labios, e pôde murmurar quasi inintelligivelmente: "Maldicto!"

E Al-gafir o triste desatou a rir ferozmente, Abdu-r-rahman olhava para elle espantado. "Mas proseguiu o fakih ás vezes Deus suscita um dos seus servos, um dos seus servos de animo tenaz e forte, possuido tambem de alguma idéa occulta e profunda, que se alevante, e rompa a trama urdida nas trévas. Este homem no caso presente sou eu. Para bem? Para mal? Não sei; mas sou!

O fakih não se moveu, e poz-se a olhar também para elle fito. "Al-muulin, o herdeiro dos Beni-Umeyyas póde chorar arrependido de seus erros diante de Deus; mas quem disser que ha neste mundo desventura capaz de lhe arrancar uma lagryma, diz-lhe elle que mentiu!" Os cantos da bôca de Al-gafir encresparam-se com um quasi imperceptivel sorriso. Houve um largo espaço de silencio.

Os olhos do fakih, ao ouvir estas perguntas, brilharam com desusado fulgor, e um daquelles sorrisos diabolicos, com que costumava fazer gelar todas as ardentes idéas mysticas do principe, lhe assomou ao rosto enrugado e carrancudo.

Nestas veias em breve se gelará o sangue; mas, sancto fakih, não me será licito confiar na misericordia de Deus? Derramei o bem entre os mussulmanos, o mal entre os infiéis: fiz emmudecer o livro de Jesus perante o de Mohammed; e deixo a meu filho um throno firmado no amor dos subditos e na veneração e temor dos inimigos da dynastia dos Beni-Umeyyas.