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Atualizado: 29 de outubro de 2025


O leão, em recuo, de dentes descobertos, largou por dois segundos a presa; depois, desesperado, estimulado pelo orgulho, voltou com um rugido mais estrepitoso que o do seu adversário, e assentou de novo a garra no veado. Queria dizer que aceitava o combate. O espeleu não obstante a sua força prodigiosa, não respondeu logo. Parado, acuado, examinava o leão, calculava-lhe a força e a agilidade.

Mais abaixo, o leão, de respiração rouca, a pesada garra assente sobre o veado, hesitante em face do colosso, como pouco antes o leopardo diante dele, uma fosforescência nas suas pupilas, mesclada de receio e cólera. Na penumbra, familiarizado com o drama, o homem. Um rugido surdo se espraiou; o espeleu sacudiu a crina e começou a descer.

Finalmente, o leão, ferido por um golpe terrível, caiu, rolando; e o espeleu, como um raio, atirou-se sobre ele e começou a rasgar-lhe o ventre. Debateu-se o leão, rugindo medonhamente. Conseguiu porém levantar-se ainda, de entranhas pendentes e juba ensanguentada.

Entrementes, fascinado pela magnificência do combate, o homem contemplava ainda o vencedor, quando viu que ele se dirigia para a moita. Um estremecimento de espanto e de terror lhe percorreu o corpo, sem lhe tirar o instinto da luta e do cálculo. Pensou que, depois de tal combate, e ávido de descanso e de alimento, o espeleu não o inquietaria naquele retiro.

Mas estava bem morto o espeleu, e não tornaria a encher de pavor as trevas. O homem sentiu no peito um grande bem-estar, uma plenitude de orgulho dulcíssimo, uma dilatação de personalidade, de vida, de confiança em si, que o pôs nervoso e contemplativo, ante as flores que a aurora iluminava. As musicas e a brisa da manhã ergueram-se ao mesmo tempo no horizonte.

Ao fundo do horizonte, uma viva filtração de prata, o arco da lua esmaecendo, evaporando-se. O espeleu, depois de lamber as feridas, sentiu que a fome voltava, e caminhou para a carcaça do veado. Cansado, muito distante do covil, procurou um retiro, onde pudesse comer,

Decidida rapidamente a escolha, o homem deu um salto, e saiu por um atalho, em ângulo recto com a linha que o monstro seguia. Ao agitarem-se os ramos, o espeleu inquietou-se, rodeou a moita, e, vendo surgir um vulto humano, rugiu. Ante esta ameaça, desvanecida qualquer tergiversação, o caçador, de músculos ágeis e destros, ergueu a zagaia e apontou.

Mas quando, enfim, o cansaço lhe oprimiu o corpo, foi buscar a sua canoa e transportou-a para a margem; depois, tendo encontrado um lugar seco, estendeu ali a pele do espeleu e, virando a canoa, cobriu-se com ela, resguardando-se contra surpresas muito rápidas. E, com a clava numa das mãos e a zagaia noutra, adormeceu.

Compreendendo não a impossibilidade de fugir, senão também que o outro não se apiedaria dele, fez rosto sem fraqueza, e reentrou no combate com tal fúria, que, durante minutos, o espeleu não pôde dominá-lo.

Sobre um montículo, o espeleu recortava na claridade lunar o seu perfil altivo de dominador, a crina pendente sobre uma peladura mosqueada de pantera, a testa chata, as maxilas proeminentes, rei outrora da Europa cheleana, em decadência hoje, reduzida a estreitas faixas de território.

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