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Atualizado: 11 de julho de 2025


Certo é logo que o ouro ama, e a elle quer, e com elle se deleita o avaro e cubiçoso; que, se o desejára para o empregar em o que com elle se alcança, perdera o primeiro nome, e podera merecer o de rico, prudente, e liberal: porque o ouro, e as riquezas, como diz S. Leão Papa, não são boas de si, nem más; mas o bom ou mau uso d'ellas engrandece, ou desacredita a quem as possue: e assim não é rico o que muito tem, senão o que com o que tem se contenta: e não ha maior pobreza, que, por empregar o desejo em um baixo metal, que sem bom uso não presta, deixarem os homens o muito que com sua valia poderam adquirir.

O mais natural é que poupasse os seus veteranos para outras occasiões arriscadas, que não lhe faltariam, nem faltaram, e que na tomada de Lisboa se aproveitasse habilmente do caracter cubiçoso, violento e audaz dos alliados para poupar quanto fosse possivel os subditos.

E além de eu estar atalhado com sua vista, o estava ella tanto com minha presença, que perdi o interesse de a vêr, por o respeito de a não molestar: despedi-me magoado: estou arrependido; e cubiçoso de a tornar a vêr, de maneira que não aparto o pensamento do logar onde os meus olhos a deixaram.

E não tratando ainda de que o amor não se considera no que ama, senão tambem na coisa amada; e que falta correspondencia, sendo essa insensivel: o amor todo se emprega no interesse dos sentidos; e este falta em todos elles ao cubiçoso: porque, se a sua temerosa côr o cativara, nem d'essa o deixa usar o seu cativeiro.

E quanto á objecção de que o ouro senão ama pelo que é, senão pelo que vale, e por o que com elle se compra e alcança, os vossos mesmos exemplos dirão por mim o contrario; que o cubiçoso, e avaro antes perderá a vida, que resgatal-a com o ouro, a que quer mais que a ella; e antes perece á fome, que satisfazel-a com dispender o que tem em mais estima que a fartura; que para elle é mór damno gastar, que todos os outros; como Lucilo conta de um avarento chamado Hermones, que, sonhando uma noite que gastara certa quantidade de dinheiro, foi tanta a sua paixão e dôr, que, cuidando que era verdade, se afogou.

E a cubiça como é vicio do entendimento, e appetite preternatural, sempre é mal nascida, e inclinada a coisas baixas. Assim que sejam os poderes, e as pinturas quão parecidas quizerdes; são as naturezas de ambos mui differentes. E menos o será amar o que ainda não conhecemos, como faz o cubiçoso a muitas coisas, que não vio, pelo interesse que d'ellas espera.

Logo certo é que o ouro ama o cubiçoso, e não o que com elle se compra; pois o não quer para comprar, senão para o possuir.

E tratando da pintura, em que a embaraçastes, e quizestes assemelhar com o amor, tenho por mui errada a declaração d'ella: e posto que seja contradizer a tão grandes entendimentos, a hei de explicar ao meu modo, que me parece que a pintaram os antigos: mulher por sua fraqueza; pois é tal, que se rende a qualquer pequeno, e vil interesse; despida como desavergonhada, por quão sem respeito, nem moderação se atreve a commetter qualquer infamia; com azas por a ligeireza, com que se arremessa a qualquer preza como ave de rapina; cega por pedinte, mendiga, e importuna: e se isto não é, venho a presumir que a fingiram com o rosto de mulher, e as pennas de ave como a harpia, que na etymologia propria do seu nome manifesta o roubo e condição do cubiçoso: e assim como a harpia damna, e descompõe todos os manjares a que chega, assim a cubiça estraga e corrompe toda as virtudes: pelo que me parece que nenhum parentesco tem com amor, que na nobreza é tão desegual, e pelos louvores de sua excellencia tão conhecido.

Palavra Do Dia

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