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Atualizado: 7 de junho de 2025
Qualquer Fernandez Shaw ou Eduardo Marquina, Santos Chocano ou Manoel Machado, Ruben Dario ou Francisco Vilaespesa, poderiam ter assignado esse texto de bravura, doce e intenso, vivido e sentido, verdadeiro cantico d'uma alma unindo a transcendencia lyrica á precisão. No tempo da Coronado os poetas ainda eram só romanticos ou classicos...
Graças a essas faculdades cydoramicas, a esse instincto artista da escolha de traços com que rhembrantizar e exprimir o mais intenso das personalidades e das almas, Carolina Coronado fazia-nos viver com emoção profunda quadros das tormentosas ou desvairadas epochas do reinado d'Izabel II, entre 1836 e 66.
Em 1891 a casa e quinta da Mitra tinham já sido vendidas por 54 contos a certo advogado artista de Lisboa, cujas consultas então se pezaram a oiro, e que a Coronado trouxera ao seu serviço em não sei que trapalhadas juridicas, demandas, pleitos, que levariam parte dos caudaes.
Trazia na mão um numero de revista litteraria, e abrindo-o no sitio d'uma peça poetica, impressa, perguntou-me se eu ouvira alguma vez fallar da Coronado. Fiz com a cabeça que não, e elle, explicando que era o médico da casa, em duas palavras fez o elogio sumário da sua cliente.
Está-se a vêr o mecanismo porque, morto o marido, a Coronado transita da fartura cómoda para a escassez molesta e tragica.
Com um vestido de velludo preto, de cauda, branca de neve, os imensos olhos de velludo molhado, que o fulgor do genio rejuvenescia no leve engêlho das póchas orbitarias, Carolina Coronado aos 82 annos era uma mulher alta e direita, de talhe esbelto, por ter ficado magra, e com dois bandós nas fontes, frizados e nevados, como esses que os retratos dão á rainha Izabel II nos seus ultimos annos de Paris.
Morto o marido em 1891, Carolina Coronado não consentiu, por mais que a lei portugueza insistisse, em separar-se do cadaver.
Das riquezas patrimoniaes da Coronado, e das acumuladas pelo marido durante as vastas emprezas comerciaes e industriaes em que fallei, grande parte devia ter cahido em sorvedoiro, pois tudo na residencia denotava, senão estreiteza de meios, pelo menos um estado de finanças bordejando de perto a derrocada.
D'aqui resultaria o que geralmente sucede aos cegos e a certos surdos-mudos perspicazes, que á mingua de sentidos proprios que lhes desdobrem a attenção sobre o de fóra, vêem para dentro, com força décupla; d'onde uma hyperacuidade d'imaginações, visões, uma vida febril de sonhos e quiméras, uma sagacidade felina para induzir de pequenas causas, efeitos mysteriosos e longinquos, que explica em muitos, por exemplo, suas faculdades de poetas e de musicos, de calculistas e filosofos, e na Coronado esse fulgurante poder de, em meia hora de palestra, nos abrir perspectivas profundas, de historiador e psychologo, sobre os meios sociaes e a gente illustre, ou simplesmente anedótica, que ella conhecera e tratara em tempos idos.
Esta casa da Mitra foi não só mausuléo de Justus Perry, como tambem da Coronado, pois, salvo uma ou duas vezes que teve d'ir a Hespanha por motivos de familia ou d'interesses, nunca mais a illustre mulher deixou aquella estancia melancholica, que foi realmente o seu claustro e o seu mosteiro.
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