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Atualizado: 15 de setembro de 2025


Todas as vezes que entrava em casa estacava, arripiado, diante da mesma visão: ou estirada no limiar da porta, ou atravessada sobre o leito d'oiro jazia a figura bojuda, de rabicho negro e tunica amarella, com o seu papagaio nos braços... Era o Mandarim Ti-Chin-Fú! Eu precipitava-me, de punho erguido: e tudo se dissipava.

Mas a viuva de Ti-Chin-Fú, as mimosas senhoras da sua descendencia, os netos pequeninos?... Iria eu deixal-os barbaramente, na fome e no frio, pelas viellas negras de Tien-Hó? Não. Esses não eram culpados das pedradas que me atirára a populaça.

Depois assaltou-me uma amargura maior: comecei a pensar que Ti-Chin-Fú tinha de certo uma vasta familia, netos, bisnetos tenros, que, despojados da herança que eu comia á farta em pratos de Sèvres, n'uma pompa de sultão perdulario, iam atravessando na China todos os infernos tradicionaes da miseria humana os dias sem arroz, o corpo sem agasalho, a esmola recusada, a rua lamacenta por morada...

Descobrira-se emfim que um opulento Mandarim, de nome Ti-Chin-Fú, vivera outr'ora nos confins da Mongolia, na villa de Tien-Hó! Tinha morrido subitamente: e a sua larga descendencia residia , em miseria, n'um casebre vil...

Accendi com os dedos ainda tremulos um charuto, e disse, limpando na testa uma baga de suor, esta palavra, resumo d'um destino: Bem, Ti-Chin-Fú está contente. Fui logo á cella do excellente padre Giulio. Elle lia o seu Breviario á janella, debicando confeitos d'assucar, com o gato do convento no collo.

Retirar-me com os meus milhões era a desforra mais pratica, mais facil! Demais, a minha idéa de resuscitar artificialmente, para bem da China, a personalidade de Ti-Chin-Fú, parecia-me agora absurda, d'uma insensatez de sonho.

Quando depois de jantar, sentindo ao lado o aroma do café, eu me estirava no sophá, enlanguecido, n'uma sensação de plenitude, elevava-se logo dentro em mim, melancolico como o côro que vem d'um ergastulo, todo um susurro de accusações: E todavia tu fizeste que esse bem-estar em que te regalas, nunca mais fosse gozado pelo veneravel Ti-Chin-Fú!...

Uma coisa porém era evidente, e n'ella concordaram Camilloff, o respeitoso Sá-Tó e a generala: que, para frequentar a familia Ti-Chin-Fú, seguir os funeraes, misturar-me á vida de Pekin, eu devia desde vestir-me como um chinez opulento, da classe letrada, para me ir habituando ao traje, ás maneiras, ao ceremonial mandarim...

E, como soldados em acampamento adormecido, que ao som do clarim se erguem, e um a um se vão juntando e formando columna outras idéas se foram reunindo no meu espirito, alinhando-se, completando um plano formidavel... Partiria para Pekin; descobriria a familia de Ti-Chin-Fú; esposando uma das senhoras, legitimaría a posse dos meus milhões; daria áquella casa letrada a antiga prosperidade; celebraria funeraes pomposos ao Mandarim, para lhe acalmar o espirito irritado; iria pelas provincias miseraveis fazendo colossaes distribuições d'arroz; e, obtendo do Imperador o botão de crystal de Mandarim, accesso facil a um bacharel, substituir-me-hia á personalidade desapparecida de Ti-Chin-Fú e poderia assim restituir legalmente á sua patria, senão a authoridade do seu saber, ao menos a força do seu oiro.

Foi necessario todo um longo verão para descobrir a provincia onde residira o defunto Ti-Chin-Fú! Que episodio administrativo tão pittoresco, tão chinez!

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