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Mas sou apenas cantora; o meu talento é a minha voz, e para que esse talento se produza é necessario um publico, não o publico indulgente dos salões, mas o grande publico, a multidão que enche um theatro. E suppõe que o amor, o lar, as santas alegrias da familia não substituirão vantajosamente o ruido das palmas e a gloriola dos bravos? Durante algum tempo... sim... é possivel, é até provavel.
Este procedimento de Linda fez com que Lauretto, vaidoso em extremo, se possuisse d'occulta irritação, que mesclava d'odio o amor, ou antes o desejo, que sentia pela cantora. Entretanto teve a força de vontade sufficiente para não manifestar o seu descontentamento, declarando até aos amigos, com ironico despreso, que se inclinava ante a virtude de Laura, a quem elle chamava Casta diva.
Envolveu a bocca de Laura com uma mantilha, e elle proprio tomou entre os dentes o lenço d'assoar, cerrando os labios como que para preservar do oxido de carbone, desenvolvido pelo incendio, os seus robustos pulmões. Em seguida, chamando a si toda a sua energia, levantou nos braços a cantora, como se ella fosse uma creança, e sahiu do camarote, percorrendo o corredor.
A cantora respondeu, sorrindo e sem se perturbar, que Lauretto fazia a côrte a todas as mulheres, mas que, a primeira vez que lhe dirigira galanteios, ella respondera-lhe de fórma que elle não se atrevera a continuar. Era a verdade, e Laura disse-a de maneira que convenceu Antonino.
O creado d'Antonino, de cada vez que o visconde não dormia em casa, dizia que elle ficava em casa de Linda. Os creados da cantora sempre que ella só de manhã voltava para casa, pensavam que Laura tivesse passado a noite em casa do visconde. Geralmente Antonino voltava para o boulevard Haussmann ao amanhecer. Laura, porém, só deixava o ninho a hora adiantada da manhã.
Tres ou quatro, contando com Despujolles, e Antonino conhecia-os a todos antes de ter relações fraternaes com a cantora. Quando os encontrou pela primeira vez em casa de Laura, tranquillisou-se. A Linda fallou-lhe d'elles com um socego e uma serenidade que não deixou no espirito do visconde a menor sombra de suspeita.
Singular indifferença essa! disse a cantora. O que o coração d'Antonino sentia era justamente o contrario da indifferença que Laura lhe suppunha. Tanto de dia como de noite o visconde só pensava em Laura. Tornar a vel-a era o seu mais ardente, o seu unico desejo. Mas desejava tanto isso, que tremia. Era como um barril repleto de polvora temendo uma faisca. E não voltou á rua de Bolonha.
Jacintha, porém, recordava-se agora de certas circumstancias e d'algumas palavras pronunciadas pelo tenor. Não podia duvidar. Era Laura quem elle desejava. A Linda estava n'esse momento á discrição do insolente. E fôra ella, Jacintha, ella, que teria dado a vida pela cantora, que a entregara áquelle miseravel! Ao ter este pensamento a infeliz sentiu-se gelada de pavor.
O marido começára por se apaixonar pela voz, e continuava-a amando por isso, sem prejuizo d'outros predicados. Todos os dias cantava para satisfazer os desejos d'Antonino, que, excellente musico, a acompanhava ao piano, extasiando-se como d'antes, e mais do que d'antes até, ante aquelle delicioso e divino canto. Mas se continuava a ser a mesma cantora, Laura deixára de ter o mesmo publico.
Em 21 de dezembro d'aquelle anno, uma local do Commercio dizia: «O vapor Lusitania sahido hontem pelas 12 horas da manhã conduziu 118 passageiros, entre os quaes: Elisa F. Hensler, etc.» Entrou, pois, na manhã do dia 21 em Lisboa a cantora. Devia levar na alma os lutos da natural vaidade ferida pela indifferença gelida d'uns pisa-verdes que honraram grandemente a mulher, menosprezando a artista.
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