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O pobre auctor sentia-se exhausto de ceremonial, perdia tempo em declarações, não largava o camarim com presentes de flôres e versos da melhor fabrica; mas fitando a grande Velledo nas pupillas, não via n'ellas fuzilar essa scentelha brusca com que a mulher reclama a intimidade de um homem.

Rogério ardia por ouvir Borbas, e sobre todos o desenterrado, Lindôso de nome, critico d'altos processos, por muitos calumniado de precoce e viridente genio das raças modernas, o manitanço! Mas sentiu-se um froufrou de sedas no escadim doirado do foyer, e uma voz argentina e alta em que dominava o grave, disse duas vezes ou tres, risonhamente: Boas noites, boas noites! Era a Velledo.

Cahia em seguida sobre os actores, no tom desdenhoso de quem trata subalternos e uma vez alli, tocava na Velledo. Desde esse instante, uma furia explosia no artigo, e as ironias eram um crivar de balas no corpo d'um fuzilado.

se lhe é agradavel fazer-me soffrer... Diga á Laura que tem logar aqui. Ella e como elle aventurava desculpas n'um tom de collegial submisso: mau! perdemos tempo. Rogério foi chamar a ingenua, que parou logo de rir, e sem dar boas noites aos que pensavam detel-a, veio lesta anichar-se no carro da Velledo; e foi em surdina uma altercação entre as duas.

Foi o momento de Rogério fazer a sua entrada na sala. Inquiriram todos: então? Era na manhã sequente á detenção de Lindôso. Sanou-se tudo, ganhamos, exclamava o dramaturgo n'um jubilo. Lindôso nosso. Vem o artigo na Gazeta do Sport. E viva! Quasi todos os jornaes fallam da Velledo em quatro columnas e cinco. Grandes letras, titulos d'arromba... Um genio! A primeira tragica da Europa.

Enxovalhada da brutalidade, a Velledo chorava, gaguejando: Infame! Infame! Despenteara-se na lucta, tinha-se aberto o colar, um dos colibris da túnica cahira, violentamente roçado. Rogério ficára a resfolegar n'um canto. Mas ouviu-se o contra-regra chamar para a scena do jardim; e com a voz musical de quando estava elegre, a Velledo desatou a rir alto entre os bastidores.

Sim! Ainda hontem a querias derribada, essa Velledo, hoje lhe advogas a victoria. Quanto paga o brasileiro por esse enthusiasmo?

Apertada n'elle, a grande Velledo ficava pouco menos de núa, contando bem da cinta para cima. Corpete de fatal origem e luctuosa historia! Tinha-o inventado o octogenario marquez das Berlengas, um galante da sociedade do delirio, que pelos modos se enfeitava, quando certa madrugada nos braços d'ella se sentiu esfriar como burro morto.

E ao passo que o brasileiro cuidava da ceia, com profusão de flôres e philarmonicas, Rogério levára ao Monte-pio os ultimos penhores que pudessem pagar um brinde a essa mulher que o entontecia e deslumbrava. No momento de descer a escada da Velledo, ainda o dramaturgo estava decidido a romper com ella.

Precisamente n'este remoinho de celebridade e de gloria, depois da grande scena do terceiro acto, uma noite, Rogério declarou-se a Velledo, n'um portuguez que a actriz não usava escutar muitas vezes. Fôra n'um escaninho do palco, durante a mutação de scenario. Palavra, adora-me, o senhor? disse-lhe ella escarnecendo. Elle compunha uma attitude fatal, como se quizesse magnetisal-a de paixão.