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FRONDELIO. Umbrano irmão, decreto he da natura, Inviolavel, fixo e sempiterno, Que a todo bem succeda desventura, E não haja prazer que seja eterno: Ao claro dia segue a noite escura, Ao suave verão o duro inverno; E se ha cousa que saiba ter firmeza, He somente esta lei da natureza.

UMBRANO. Qual o quieto somno aos cansados Debaixo de algum'árvore sombria; Ou qual aos sequiosos encalmados O vento respirante e a fonte fria: Taes me forão teus versos delicados, Teu numeroso canto e melodia: E ainda agora o tom suave e brando Os ouvidos me fica adormentando.

FRONDELIO. Umbrano, a temeraria segurança Qu'em fôrça, ou em razão não se assegura, He falsa e vãa; que a grande confiança Não he sempre ajudada da ventura. Que junto das aras da esperança, Némesis moderada, justa e dura, Hum freio lhe está pondo e lei terribil, Que os limites não passe do possibil.

Esta he, por certo, Aonia filha amada Daquelle grã Pastor, qu'em nossos dias Danubio enfreia, manda o claro Ibero, E espanta o morador do Euxino fero. Ah lei dos fados, aspera e tyrana! Mas o som peregrino e piedoso, Com que a formosa Nympha a dor engana, Escuta hum pouco. Nota e , Umbrano, Quão bem que sôa o verso Castelhano.

UMBRANO. Canta agora, pastor, que o gado pace Entre as humidas hervas socegado; E nas altas serras, onde nace, O sacro Tejo á sombra recostado, Co'os seus olhos no chão, a mão na face, Está para te ouvir apparelhado; E com silencio triste estão as Nymphas Dos olhos destillando claras lymphas.

UMBRANO. Em quanto do seguro azambujeiro Nos pastores de Luso houver cajados, Como valor antiguo, que primeiro Os fez no mundo tão assinalados, Não temas tu, Frondelio companheiro, Qu'em algum tempo sejão sobjugados, Nem que a cerviz indomita obedeça A outro jugo qualquer que se lhe offreça.

UMBRANO. Cousas não costumadas na espessura, Que nunca vi, Frondelio, vejo agora: Formosas Nymphas vejo na verdura, Cujo divino gesto o ceo namora. Huma de desusada formosura, Que das outras parece ser Senhora, Sôbre hum triste sepulcro, não cessando, Está perlas dos olhos destillando.

UMBRANO. Comtigo vou, que quanto mais me chego, Mais gentil me parece a voz que ouviste, Peregrina, excellente; e não te nego Que me faz no peito a alma triste. Nenhum rumor da serra lhe resiste: Nenhum passaro vôa, mas parece Que, do canto vencido, lhe obedece.

FRONDELIO. Antes por este valle, amigo Umbrano, Se t'aprouver, levemos as ovelhas; Porque, se eu por acêrto não me engano, De me sôa hum eco nas orelhas: O doce accento não parece humano. E, se em contrário tu não m'aconselhas, Eu quero descobrir que cousa seja; Que o tom m'espanta, e a voz me faz inveja.

UMBRANO. Em lagrimas me banha rosto e peito Desse caso terrivel a memoria, Quando vejo quão sabio e quão perfeito, E quão merecedor de longa historia Era esse teu pastor, que sem direito Deo ás Parcas a vida transitoria. Mas não ha hi quem d'herva o gado farte, Nem de juvenil sangue o fero Marte. FRONDELIO. Como queres renove ao pensamento Tamanho mal, tamanha desventura?

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