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Raul, subtilisado pela paixão que adelgaça os temperamentos mais espêssos, adivinhou um dia que o sorriso da luveira em resposta aos desabrimentos de certa mulher que lhe regeitava umas luvas esgarçadas ao vestir, era a expressão ironica do infortunio que se irritava, ou acaso a serena alegria da voluntaria martyr.

Máo conceito, não, senhor emendou D. Maria pareceram-me apenas uma impertinente phrase que violentada podia entrar na nossa conversação. Eu dizia-lhe que o snr. D. Miguel é infeliz; e V. Exrespondeu-me que era rico. Figurou-se-me que me considerou medianeira nas esmolas que se pedem para elle... Errou, minha senhora retorquiu Raul, fortalecido pela pureza nobilissima das suas tençoens.

O mulato rejeitara o dinheiro dizendo entre soluços que não queria deixar o padrinho; e, abraçado ao pequeno Raul, rogava-lhe, debulhado em lagrimas, pedisse ao pae e á mãe que o não mandassem embora. A esposa do submisso negociante não condescendera.

Poucos annos antes, havia casado o negociante com a mãe de Raul, a qual, ciosa da consideração que o esposo liberalisava ao filho da escrava, disparou em impertinencias que poderiam resultar a felicidade do mulato, se elle pendesse a engrandecer-se por lettras.

A condessa agitou-se, riu-se, chorou, bateu as palmas, abraçou o marido, beijou a sua amiga Ernestina, e exclamou com febril vertigem: Vou vêr meu pae!... vaes vêl-o, Raul!... verás o que elle te diz de minha mãe... verás que é tudo calumnia!...

Quando chegar a Lisboa, leia e faça o que lhe peço. Mas, antes não a abra, pelo amor de Deus! Sim, minha senhora.... Os seus pedidos são ordens para mim.... Adeus! Chegando á cidade do Tejo, estava Raul n'um auspicioso de restabelecimento. Todavia, entrou a medicar-se com cuidado, resguardando-se de tudo quanto podésse fazer-lhe mal.

Dada em resumo a biographia do mulato, personagem de maxima importancia n'esta historia, temos explicado aquellas lagrimas, que o filho da escrava chorava, beijando a mão fria do homem a quem nunca ousára chamar pae, posto que, no silencio da alma, uma voz mysteriosa lhe dissesse que Raul era seu irmão. Murro, s. m. pancada com a mão fechada. Soco. ROQUETE, Dicc. da Lingua Port.

Em uma d'essas tardes de innocentissimo prazer, entrou na loja de D. Maria José um mulato offegante, com os olhos vidrados de lagrimas, e exclamou em soffocativas intermitentes, dirigindo-se a Raul: Menino, venha depressa a casa... venha depressa... que o snr. conde... Que é, Damião?! interrompeu Raul que tem meu pae?...

Estes uteis entretenimentos levaram-n'o a esquecer-se da sra. d. Joaquina. Passaram os mezes. Raul ficou curado: estava gordo e forte. Como os medicos lhe recommendassem que não viesse ao Brazil, tratou de procurar emprego no continente. Achou um, que pareceu-lhe agradavel. Fez-se caixeiro viajante d'uma conceituada casa commercial, para ir fazer cobranças pelas provincias.

Satisfez-me a curiosidade o meu amigo, nomeando um poeta de piano, um prosador de calendario, um redactor do Jardim das Damas, charadista historico dos almanaks de Castilho. D. Maria José havia recusado as mãos d'estes litteratos pobres assim como tinha recusado os pés d'alguns capitalistas. E acrescentou José Parada: Um homem que morre por ella é aquelle Raul que ficou na loja.

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