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Vae sahir um enterro. Morreu o pequeno do gato pingado. Trouxe-a para casa uma noite, a essa creança que encontrou cahida na rua. Um rapaz de dez annos, abandonado e com uma pneumonia... Que lhe quer o gato pingado fazer, não me dirão?... Estava a chorar. Deu-lhe para chorar sobre o caixão d'um garoto, que não lhe é nada.

As mulheres passam ás vezes na rua, com chales purpuras a rasto; o gato pingado sahe á noitinha, á hora dos morcegos. Mais timido que eu, encontro-o nas escadas a tossir, com o peito escalavrado e rôto. Para que vive esta ralé? Levantam-se derreados, para cavar, para berrar, para que lhes deem um pedaço de pão e se deitam no sepulchro. Caminho sem sonho.

Arqueja o lume no escuro todo povoado de vozes, que vão prégar, mas que logo se callam suffocadas. A ventania passa fóra e na escada soam os passos do gato pingado; as mulheres gargalham e eu fico sósinho, a scismar, n'este velho casarão, com os olhos presos no lume que esmorece... Eil-o que pára no patamar a tossir, com o peito escalavrado e roto!...

Vão mulheres perdidas e a Rata, a tossir, vae o Astronomo, e na frente d'um caixão de passarito, comboiando a turba, marcha o gato pingado, de brandão em punho, chapeo alto e casaca a esvoaçar... A que irão elles deitar fogo na noite tragica, de lama e chuva? Mulheres perdidas, ralé, o velho tisico... Na volta vêm decerto a cahir de bebados.

N'uma trapeira o gato pingado quer dizer: Amo-te! mas foi sempre tão que não sabe exprimir o que sente. Na alma d'aquella creatura humilde, despida e escarnecida, que tinha medo de sonhar e até de chorar, fizera se um clarão. Tal o espanto enternecido d'uma pedra, a que uma raiz se apega e que a olha deitar flôr na primeira primavera.

O gato pingado... Eil-o que sobe. Cada passo me lembra uma pázada de terra.

Quem foi a tua mãe, ó S. José?... Apedrejam-n'o os garotos ao vel-o passar para os enterros, fogem d'elle os visinhos e a Rata fala ao gato pingado. A Rata é sua egual, tão maltratada pelo destino como elle. Foi sempre assim: rachitica, triste e feia. A vida para ella tem sido mourejar. Sustentou primeiro a mulher que a tirou do asylo, depois o homem com quem casou, e que logo a deixou sósinha.

N'este casarão onde móro a toda a hora se ouve o ruido da levada; corre sempre como as torrentes desordenadas e esplendidas. Escutae!... Préga o inverno bravio, o vento e os aguaceiros passam, mas escutae, escutae!... São meus visinhos, em baixo mulheres perdidas, ao de mim dois casados, e na trapeira um gato pingado, a quem chamam S. José.