United States or Belarus ? Vote for the TOP Country of the Week !


Passeava eu pois com a minha apparição candida; sentava-a ao de mim; apertava-a nos meus braços; mostrava-a com ufania ao astro das noites, que não era mais puro, nem mais limpido; pedia-lhe, promettia-lhe uma ventura ainda não experimentada na terra; unificavamos pelas nossas confidencias o nosso passado; o nosso porvir entretecia-se n'um ser unico.

Pela manhã viram o batel tão perto que chegaram á fala; e pediam ainda que os salvassem com vozes tão profundas e piedosas, que mettiam medo e terror. Finalmente, n'um clamor de gritos e n'uma columna de fumo, espadanando a agua, a náu sossobrou: no alto do capitel da pôpa a escrava, com a creança nos braços, mostrava-a á mãe, desolada no batel.

A Cerva branca que lhe offereceram os Lusitanos quando o chamaram da Lybia, seguia-o por toda a parte, coroada de flores, sem temor da soldadesca; mostrava-a como um dom de Hertha, consultava-a como oraculo, derrotando todas as legiões romanas, pelo prestigio tradicional da Cerva branca sobre a multidão que o acclamára por chefe.

A este tempo, assomou a uma janella fronteira ao seu quarto uma visinha, que vivia honestamente na desgraça, irmã d'aquella flor de Magdala, calcada aos pés pelos que não comprehenderam o impulso dos sentimentos que a transviaram. A pobre trabalhava e distraía-se a vêr os que passavam; cantava e ria esquecida do seu opprobrio. Estava vestida com uma côr triste, que lhe realçava a expressão dolorosa. Elle viu-a; cumprimentou-a com um sorriso leve, que traduzia um epigramma, que fôra comprehendido. Depois voltou-se para dentro: Ha uma affinidade intima entre a mulher e as côres; a escolha, a preferencia, a seducção por uma, é a linguagem de um sentimento recondito, que resôa dentro em si, e que ella não sabe exprimir, é o symbolo na sua fórma mais poetica e simples. A mulher é sempre uma criança, chora e ri ao mesmo tempo; como sente mais do que pensa, quer mais do que pode. A grande contradicção, que faz com que realise as nossas aspirações vagas e ideaes! Como uma criancinha que tem sêde, e, não sabendo ainda pedir agua, aponta para ella e exulta, assim a mulher não podendo revelar o sentimento indefinido que a eleva, que a faz soffrer e amar, serve-se da linguagem symbolica das côres, para completar a expressão que lhe transluz no rosto. Raphael, na sua inspiração divina, entreviu este mysterio quando ao determinar o ideal da Virgem na arte moderna, tomou a côr do azul ethereo para colorir-lhe o manto. O ideal da mulher no mundo antigo, menos espiritual, mas egualmente bello, mostrava-a como uma flor, a creação mais aprimorada da natureza, a planta mimosissima e languida; é assim Sacuntala, na poesia da India; a fraqueza, que póde tanto como a constancia heroica, quasi impossivel, de sua irmã Griselidis na Edade média; ella confidencia com as aves, os arbustos choram na despedida, as flôres amam-n'a como uma irmã gémea, um carpello tenuissimo animado á luz do sol brilhante, perfumado com todas as essencias de uma atmosphera limpida e serena.

Palavra Do Dia

antecipa

Outros Procurando