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D'estas lianças foi logo o reino todo sabedor e mui espantado, especialmente mostraram d'isso grande sentimento o Infante D. João seu genro, e o Infante D. Anrique ambos seus irmãos. E o Infante D. João lh'o enviou muito estranhar por Vasco Gil seu confessor, que depois foi Bispo d'Evora, e o Infante D. Anrique por Fernão Lopez d'Azevedo, Commendador Mór de Christo.

E ſe queres com pactos, & lianças De paz, & de amizade ſacra, & nua, Comerçio conſentir das abundanças Das fazendas da terra ſua, & tua, Porque creção as rendas, & abaſtanças, Por quem a gente mais trabalha & ſua, De voſſos Reinos, ſera certamente De ti proueito, & delle gloria ingente.

No qual anno, e assi no passado entre os Reis de Castella e de Portugal houve de uma parte e da outra muitas embaixadas, ainda sobre lianças e mudança de casamento d'El-Rei D. Affonso com a Princeza D. Joanna sua sobrinha; porque como El-Rei D. Anrique de Castella soube que o Principe D. João de Portugal era casado com a Princesa D. Lianor, e não podia casar com a Princesa sua filha, e viu que a Infante D. Isabel sua irmã fôra contra seu prazer e auctoridade casada com El-Rei de Cecilia filho d'El-Rei D. João d'Aragão, mandou fazer d'isso autos solenes, em que com quanto pôde, por sua desobediencia a desherdou da herança de Castella.

Onde El-Rei tambem veiu, e fez côrtes de todolos grandes e povos de seus reinos, e todos a ellas vieram salvo o Infante D. Fernando, que em vindo adoeceu na sua villa de Covilhã e não pôde estar n'ellas, nas quaes a Rainha em nome d'El-Rei e seu requereu a dita ajuda, com fundamentos e causas que pareciam de honra, razão e proveito, mas em fim conhecida a condição variavel do dito Rei D. Anrique, e outras cousas mui perjudiciaes a taes lianças, foi El-Rei aconselhado que em tal discordia e empreza nem lianças se não antremettesse, da qual cousa com a mais honestidade que pôde se escusou.

E alli tiveram as mesmas praticas e acordos de Gibaltar sobre casamentos e lianças, que em fim não houveram effeito, porque a Infante D. Isabel de Castella, contra vontade d'El-Rei D. Anrique, e por meio do Arcebispo de Tolledo casou logo com D. Fernando, Principe d'Aragão e de Cicilia, que depois reinaram pacificamente em Castella, e o Principe de Portugal casou com a Senhora D. Lianor sua prima com irmã, filha maior do Infante D. Fernando, que depois foi Rainha de Portugal.

Nem se creu que o conde de Barcellos inventara estas lianças e pendores, salvo por meter o reino em necessidade de sua pessoa e casa, e lh'a haverem de compoer com villas e terras como fizeram; porque da Rainha não havia tão urgentes razões que o a isso obrigassem, e dos Infantes d'Aragão muito menos.

E no anno seguinte de mil e quatrocentos e sessenta e cinco houve em Castella entre El-Rei D. Anrique e os senhores do reino grande differença; porque alguns por vicios e erros que lhe punham, lhe alevantaram a obediencia e a deram ao Infante D. Affonso, que em moço alevantaram por Rei, sobre a qual cousa a Rainha D. Joana de Castella para pedir ajuda e socorro contra os revés a El-Rei D. Anrique seu marido, e assi ainda sobre os ditos e lianças veiu á cidade da Guarda em Portugal.

E n'este tempo porque El-Rei sentia bem que seu poder nem ajuda dos grandes de Castella, não lhe davam para sua demanda tão firme esperança como cumpria, forçado de um vivo desejo de sua honra, enviou por seus messegeiros requerer ajuda a El-Rei de França, que com El Rei D. Fernando como Rei d'Aragão então não estava d'accordo, e tinha por meio de D. Alvaro d'Atayde feitas suas lianças com El-Rei D. Affonso, como e verdadeiro Rei de Castella.