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Ia no batel entrou do Capitão O Rei, que nos ſeus braços o leuaua, Elle coa corteſia, que a razão (Por ſer Rei) requeria, lhe fallaua. Cũas moſtras de eſpanto, & admiração, O Mouro o geſto, & o modo lhe notoua, Como quem em muy grande estima tinha, Gente que de tam longe
Tambem nestas palauras lhe mentia, Como por regimento em fim leuaua, Que aqui gente de Chriſto não auia: Mas a que a Mahamede celeebraua. O Capitão que em tudo o mouro cria, Virando as vellas, a Ilha demandaua: Mas nam querendo a Deoſa guardadora, Nam entra pela barra, & ſurge fora.
Outros pendem da verga, & ja deſatão A vella, que com grita ſe ſoltaua, Quando com maior grita ao Rei relatão A preſſa, com que a armada ſe leuaua: As molheres & filhos, que ſe matão Daquelles que vão preſos, onde eſtaua O Samorim, ſe aqueixão que perdidos Hũs tem os pais, as outras os maridos.
Mas ja a luz ſe moſtraua duuidoſa, Porque a alampada grande ſe eſcondia Debaxo do Orizonte & luminoſa Leuaua aos Antipodas o dia, Quando o Gentio, & a gente generoſa, Dos Naires, da nao forte ſe partia A buſcar o repouſo que deſcanſa, Os laſſos animais, na noite manſa.
Na praia hum regedor do Reino eſtaua, Que na ſua lingoa Catual ſe chama, Rodeado de Naires, que eſperaua Com deſuſada feſta o nobre Gama: Ia na terra nos braços o leuaua, E num partatil leito hũa rica cama Lhe offereçe em que va, costume vſado, Que nos hombros dos homẽs he leuado.
Mas ja o Principe claro, o vencimento, Do padrasto & da inica mãy leuaua, Ia lhe obedece a terra num momento, Que primeiro contra elle pelejaua. Porem vencido de Ira o entendimento, A mãy em ferros aſperos ataua: Mas de Deos foi vingada em tempo breue, Tanta veneração aos pais ſe deue.
Olha aquelle que deçe pela lança, Com as duas cabeças dos vigias, Onde a çilada eſconde, com que alcança A cidade por manhas & ouſadias: Ella por armas toma a ſemelhança Do caualleiro, que as cabeças frias Na mão leuaua, feito nunca feito, Giraldo ſem pauor he o forte peito.
Mas deſpois de ſer tudo ja notado, Do generoſo Mouro, que paſmaua, Ouuindo o inſtrumento inuſitado, Que tamanho terror em ſi moſtraua, Mandaua estar quieto, & ancorado, Nagoa o batel ligeiro que as leuaua, Por fallar de vagar co forte Gama, Nas couſas de que tem noticla, & fama.
Ia pelo ar o Cylenêo voaua, Com as aſas nos pês aa terra deçe, Sua vara fatal na mão leuaua, Com que os olhos canſados adormece: Com eſta, as triſtes almas reuocaua, Do Inferno, & o vento lhe obedeçe. Na cabeça o galêro coſtumado, E deſta arte a Melinde foy chegado.
Palavra Do Dia