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E o conde de Faram aderençou sua falla para a Rainha, e lhe disse: «Senhora, bem creiu em caso que o voto que dei seja contrairo a vosso desejo que não leixará vossa mercê de crêr que eu amo muito vosso serviço, e dos Senhores Infantes vossos irmãos, por cuja honra e estado eu trabalhei e padeci o que elles sabem, por isso o dei e o disse, e por isso vos quero bem conselhar.

E outra para os seus que alli leixara, que estivessem á obediencia e ordenança do conde de Farão, com que todos foram tão tristes, e fizeram tão dorosos prantos como a razão ensina, que em terras tão estranhas e em tanto desamparo, e a Rei tão amado devia ser.

E no outro dia o Mestre, que destas consultas, e ardis, não foi nem podia ser avisado, partio do lugar, onde fora a batalha para Cacella, e vindo por seu caminho direito, que dizem o Almargem, junto do qual os Mouros estavam prestes com seu ardil de os saltearem, e o Mestre não trazia toda sua gente, que salvou da peleja, porque alguma leixara no monte, em que agora é Crasto Marim, para dahi recolherem alguns seus, que passavam pela ribeira, e porém em chegando ao logar do Salto, onde os Mouros os esperavam, elles sahiram a elle tão de supito, e o commetteram com tantas gritas, e forças, que o poseram em muita torvação, e perigo, pela qual conveo ao Mestre e aos seus por força se recolherem a um monte alto, que é junto de Tavilla, a que depois chamaram a Cabeça do Mestre, donde pela fortaleza do lugar se defendiam dos Mouros milhor, e os ofendiam com mais sua aventagem.

E que por quanto d'elle não ficara filho barão que o herdasse o houvera o Infante D. João, não como filho de Rei, mas como quem casou com sua neta, e que como quer que a elle conde d'Ourem mais que a outrem de razão pertencesse, por ser neto barão e maior do Condestabre; porém que o leixara então de requerer, porque para se haver não fizera diferença entre o Infante D. João e si mesmo; mas agora que por sobcessão de barão ficava distinto, e a elle pertencia como a principal ramo que do tronco do Condestabre ficava, lhe pedia que o provesse d'elle».

Pelo qual a Rainha e o Infante D. Pedro ante de seus desvairos, por se satisfazer ao Infante D. Fernando e cumprir a vontade d'ElRei D. Duarte, que em seu testamento o leixara muito encommendado, determinaram com os do conselho, e houveram por bem, que pospostas amoestações do Papa e conselhos de muitos Principes christãos que o contrariavam, que Ceuta todavia se desse por elle, e sobre isso passaram em nome d'El-Rei as cartas e procurações necessarias, assignadas por ambos, com as quaes foram por embaixadores Martim de Tavora, reposteiro mór d'El-Rei, e o licenceado Gomes Eanes, desembargador na casa do civel.

El-Rei Dom Sancho, como em sua Coronica disse, leixou em seu testamento á Rainha Dona Tareja, sua filha, que fora cazada com o dito Rei Dom Affonso de Lião, a Villa de Monte mór o Velho, e Esgueira, e mais dez mil maravedis douro, e certa prata, e que se ella morresse, que houvesse estes Lugares a Ifante Dona Branca sua irmã della, e leixou á Ifante Dona Sancha a Villa Dalanquer, e dez mil maravedis douro, e tambem prata, e que se ella falecesse, que houvesse a Villa a Ifante Biringela sua irmã, das quaes Villas, e cousas ellas houveram a posse, e as tinham; mas El-Rei Dom Affonso seu irmão em caso que fosse contra seu juramento, e menagem, não quiz estar inteiramente pelo testamento del-Rei seu padre, antes como Reinou logo pedio as ditas Villas, e Fortalezas a suas irmãs, dizendo: «Que El Rei seu padre lhas não podia dar, que era em mui grande diminuição do Reino, e que era sobresso concedido privilegio do Papa Alexandre Terceiro, por o qual as cousas do Reino senão podiam dar a alguma pessoa nem emlhear, e que assás lhe leixara a ellas nos maravedis douro, e prata de seu testamento com outras cousas, que tinham de suas fazendas.

A Rainha como foi em Alanquer, logo escreveu a Lisboa, e alli geralmente a todas as cidades, villas e povos do reino, notificando-lhe alguns beneficios e boas obras que lhes procurara para os obrigar; e assim as causas dos aggravos e sem razões que ácerca do Regimento recebia, para os mover a piedade, descarregando-os com razõas boas, honestas e de razão, dos temores que d'ella tinham ácerca do meter das gentes estrangeiras n'estes reinos, e segurando-os da vingança que lhes faziam crêr que ella d'alguns cruamenta queria tomar; encommendando-lhes e requerendo finalmente, que para as côrtes que se chegavam, cessassem de requerer novidades acerca do Regimento, e quizessem approvar o que El-Rei D. Duarte seu marido leixara, ou ao menos o que nas côrtes de Torres Novas fôra acordado, com alguns protestos fundados em sua boa e virtuosa tenção, mandando que por seu descargo se d'ello se seguissem alguns males e inconvenientes, que suas cartas se registassem nos livros das camaras, e puzessem nos cartorios das religiões: o que se não fez assim; porque na maior parte do reino era o alvoroço tamanho contra a Rainha, que álem de não quererem vêr suas cartas, ainda tratavam os messegeiros d'ellas asperamente, e não como deviam.

Mas comtudo elles não afrouxavam os Christãos, antes por todalas maneiras de fazer mal os combatiam, trabalhando com todas forças por lhes cobrar o monte, que os salvava, e com tanta fortalesa afrontavam o Mestre, que se não sobreviera a noite que os apartou elle, e os seus se despunham, e estavam em mortal perigo, e os Mouros apartados do combate lançaram-se ao do monte alongados da vista dos Christãos, logo com determinação de ao outro dia tornarem á peleja, mas elles neste primeiro proposito não perseveraram, porque praticando antre si sobre as gentes que ao Mestre logo viriam em seu socorro, e o perigo, que nesso corriam alevantaram-se, e foram-se tristes para os logares donde partiram, o que assi fizeram sem vista nem sabedoria do Mestre, o qual na noite passada tinha avisada sua gente, que leixara em Cacella para que e viessem socorrer, como logo vieram com fundamento de dar batalha aos Mouros se o esperassem, quando soube que eram partidos alegre, e a seu salvo se foi para Cacella.

E então mandou a Lopo d'Almeida e ao adail, que com a gente necessaria levassem a cavalgada ao da serra onde o esperassem, e d'ali abalou El Rei com mais vagar do que o tempo e a terra requeriam, e de um cabeço em que se pôs, mandou aos espingardeiros e besteiros e gente de , que por mór despejo se fossem diante caminho de Tutuam, onde aquella noite havia de repousar, e depois de passado um grande espaço ainda com passos vagarosos seguiu sua viagem, e após elle sem muito alvoroço vinham alguns mouros de cavallo, e sobresendo El-Rei disse: «Parece-me que estes mouros na maneira em que vem mais quererão paz que peleja», com os quaes esteve á falla, querendo d'elles saber se queriam ser seus como os outros, a que os mouros pediram horas d'acordo e consulta com outros seus visinhos, que em grande somma eram postos em um cabeço que El-Rei leixara; e porque a resposta tardava El-Rei abalou, e com seu estandarte diante sobiu com os de cavallo a um cerro alto e de pedras e barrocas mui fragoso; era na reguarda d'elle o conde de Villa Real e bem detraz, e o conde de Guimarães pediu a El-Rei que por quanto o conde seu cunhado ficava em grande perigo o mandasse com espingardeiros e besteiros soccorrer, para que se não acharam, e El-Rei lhe mandou dizer que logo sem mais esperar se recolhesse a elle; mas o conde como era esforçado e singular capitão, e nas manhas dos mouros assaz avisado, mandou dizer a El-Rei que lhe despejasse o porto e se fosse embora; porque elle por seu serviço se recolheria com sua honra e com dano dos mouros.