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Por estas duas qualidades se percebe que os Goncourt não poderão nunca ser uns escriptores populares. os delicados se comprazem n'estas subtilezas da idéa e da fórma. O que n'elles porém avulta a todos os olhos, é este phenomeno raro de identificação, que fez de ambos um , sem que possa de modo algum descriminar-se a parte em que qualquer d'elles concorreu para o trabalho commum.

«Ha no seu livro, diz Julio de Goncourt n'uma carta a Michelet, phrases feitas de luz, paginas inteiras de sol, epithetos que se respiram, idéas que fremem e palpitam sobre a haste das palavras!!» Qual de nós tem esta viva impressão intellectual, tão delicada e subtilmente expressa aqui, ante a musica mais ou menos bella de um livro de prosa?

Os nomes de Flaubert e dos Goncourt não sahiam das nossas boccas, n'uma encantação perenne; e era com uma anciedade viva, com um fervor religioso, que aguardavamos os volumes mais recentes de Bourget e Daudet e da galeria gigantesca dos Rougon-Macquart. Germinal desabrochara e florira para nós n'um Sinai de fulgurações e assombros... Novos, muito novos que então eramos, seguramente.

Os dois Goncourt, por muito tempo desconhecidos e negados, são hoje, finalmente, considerados como os continuadores do pensamento de Balzac, sob uma fórma litteraria, mais artistica, mais requintada, mais tourmentée que a do grande romancista da Cousine Bette.

Os Goncourt, todavia, sendo os primeiros que se filiaram, sob uma fórma diversa, na escola iniciada pelo genial creador da Comedia Humana, nem por isso são os mais conhecidos e os mais apreciados. uma limitada élite intellectual seguiu com profundo interesse o trabalho d'estes irmãos gemeos em litteratura. Duas qualidades predominantes os distinguem.

Esses não teem mais do que traduzir os sentimentos communs a toda a humanidade. Ha escriptores para os delicados, para os doentes d'essa terrivel nevrose cerebral que hoje martyrisa os pensadores, os artistas, os investigadores incontentaveis da verdade. Esses hão de ler com prazer agudo, quasi doloroso, os livros de Julio e Edmundo de Goncourt.

O trabalho interior que, por este modo incisivo e brilhante, os dois Goncourt, aqui descrevem, fez-se n'elles, sob a influencia de Gavarni.

Os que duvidarem que leiam a lancinante, a dolorosa historia tão mesquinha e tão tragica, tão humilde e tão desoladora da creada Germinia; que leiam aquelle terrivel estudo chamado Charles Demailly, em que Julio de Goncourt como que advinha e prophetiza as torturas da sua vida de escriptor, e a agonia longa e martyrisante da sua morte de artista ambicioso e incontentado.

Para lêr e apreciar a obra dos Goncourt é necessario ter como elles, os nervos vibrantes, o cerebro excitado, e a sensibilidade estranhamente irritavel. Escrevendo a Zola, a respeito da morte de seu querido irmão, Edmond de Goncourt, dizia: «A meu vêr, elle morreu do trabalho, morreu sobretudo da elaboração da fórma, da cinzeladura da phrase, do lavôr do estylo.

Os Goncourt fallando em Coriolis, o pintor da Manette Salomon, descrevem d'este modo saisissant o artista que se compenetra apaixonadamente dos espectaculos do seu tempo. Este pintor sente o que sentia Gavarni; o que os dois escriptores sentiram tambem mais tarde; e é d'este modo especial de encararem a arte que toda a obra d'elles deriva naturalmente.