United States or North Korea ? Vote for the TOP Country of the Week !


Tu tens, Marilia, Cantor celeste; O meu Glauceste A voz ergueo; Irá teu nome Aos fins da Terra, E ao mesmo Ceo. Quando nas azas Do leve vento Ao Firmamento Teu nome for: Mostrando Jove Graça extremosa, Mudando a Esposa De inveja a côr; De todos ha-de, Voltando o rosto, Sorrir-se Amor.

Não se julga formosura A formosura, que mata. Evita, Glauceste, evita O teu estrago, e desdouro; A tua Eulina não vale, Não vale immenso thesouro. A minha Marilia quanto Á natureza não deve! Tem divino rosto, E tem mãos de neve. Se mostro na face o gôsto, Ri-se Marilia contente: Se canto, canta comigo; E apenas triste me sente, Limpa os olhos com as tranças Do fino cabello louro.

Ah! quando Alceo pondéra Que o seu Glauceste suspira, Perde, perde o soffrimento, E qual enfermo delira! Tenha embora brancas faces, Meigos olhos, fios de ouro, A tua Eulina não vale, Não vale immenso thesouro. O fuzil, que imita a cobra, Tambem aos olhos he bello; Mas quando alumêa, Tu tremes de velo. Que importa se mostre chêa De mil bellezas a ingrata?

A pintar as negras tranças Peço que mais te desvelles: Pinta chusmas de amorinhos Pelos seus fios trepando; Huns tecendo cordas delles, Outros com elles brincando. Ah, pinta, pinta A minha bella! E em nada a cópia Se affaste della. Para pintares, Glauceste, Os seus beiços graciosos, Entre as flores tens o cravo, Entre as pedras a granada; E para os olhos formosos, A estrella da madrugada.

He, Glauceste, os teus Amores; E nem por outra Pastora, Que menos dotes tivera, Ou que menos bella fôra, O meu Glauceste cançára As divinas cordas de ouro. Ah! que a tua Eulina vale, Val hum immenso thesouro! Sim, Eulina he huma Deosa; Mas anîma a formosura De huma alma de féra, Ou inda mais dura.

Deixa que viva a perfida calumnia, E forge o meu tormento: Com menos, meu Glauceste, Com menos me contento. Toma a lyra doirada, E toca hum pouco nella: Levanta a vóz celeste Em parte que te escute a minha bella; Enche todo o contorno de alegria; Não soffras, que o desgosto Affogue em pranto amargo O seu divino rosto.

Então eu me ajuntava com Glauceste; E á sombra de alto Cédro na Campina Eu versos te compunha, e elle os compunha Á sua cara Eulina. Cada qual o seu canto aos Astros leva; De exceder hum ao outro qualquer trata O ecco agora diz: Marilia terna; E logo: Eulina ingrata.

Posto ao lado de Marilia Mais que mortal me contemplo: Deixo os bens, que aos homens cegão, Sigo dos Deoses o exemplo: Amo virtudes, e dotes; Amo em fim, prezado Alceo, Bens, que valem sobre a terra, E que tem valor no Ceo. Eu, Glauceste, não duvido Ser a tua Eulina amada Pastora formosa, Pastora engraçada.

Apenas Amor me escuta Manda que os lance nas brazas; E ergue a chamma c'o vento, Que formou batendo as azas. Péga na lyra sonora, Péga meu charo Glauceste; E ferindo as cordas de ouro, Mostra aos rusticos Pastores A formosura celeste De Marilia, meus amores. Ah, pinta, pinta A minha bella! E em nada a cópia Se affaste della. Que concurso, meu Glauceste, Que concurso tão ditoso!

Meu prezado Glauceste, Se fazes o conceito, Que bem que réo abrigo A candida virtude no meu peito. Se julgas, digo, que mereço ainda Da tua mão soccorro; Ah! vem dar-m'o agora, Agora sim que morro. Não quero, que montado No Pegaso fogoso, Venhas com dura lança Ao monstro infame traspassar raivoso.