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O soldado parecia desaccordado, confuso e sem intelligencia do que ouvia. Georgina impassivel até alli, rigida e inabalavel com o seu amante, sentia commover-se agora d'aquella angústia do velho.

Prohibiram-lhe fallar; e Georgina tinha a coragem de lhe resistir, de lhe não responder todas as vezes que elle tentava quebrar o preceito de que dependia a sua vida... e a d'ella, porque a infeliz amava-o... oh! amava-o como se não ama senão uma vez n'este mundo.

Aquelle amor cego, louco, infinito, que derramavas em torrentes sôbre a minha alma, em que trasbordava o teu coração; aquelle amor que eu cheguei a persuadir-me que era o maior, o mais sincero, talvez o unico verdadeiro amor de mulher que ainda houve no mundo, esse amor acabou, Georgina? Seccou-se no teu peito a fonte celeste d'onde manava?

E Georgina disse com aquelle som de voz irresistivel que as filhas de Eva herdaram de sua primeira mãe, e que a ella ou lh'o tinham antes insinado os anjos, ou o apprendeu depois da serpente, um som de voz que é a última e a mais decisiva da seducções femininas disse: 'Este homem vai morrer, Carlos: e tu hasde-o deixar morrer assim, meu Carlos?

Eu... oh! eu quiz-te... pelo eterno Deus que me ouve! eu quiz-te com uma cegueira d'alma, n'uma singeleza de coração, com um abandôno tam completo, uma abnegação tam inteira de mim mesma, que realmente creio, este é o amor que so a Deus se deve, que so ao Creador a creatura póde consagrar licitamente. Bem castigada estou: mereci-o. 'Georgina, Georgina!

'Não mintas, Carlos... E dorme. 'Oh meu Deus, meu Deus! Georgina aqui, eu n'este estado e... E a minha gente? 'A tua gente está salva. 'Aonde? 'Aqui mesmo, em Santarem. 'Quero... não quero... Oh sim, quero mas é morrer. Tende misericordia de mim, meu Deus! 'Socega, Carlos.

'Se eu nunca deixei, nem um momento... Com um gesto expressivo, e de suave mas resoluta denegação, Georgina pôs a mão na bôcca do pobre Carlos, como para o impedir de dizer uma blasphemia. Elle segurou-a com as suas ambas e lh'a beijou mil vezes com um arrebatamento, uma furia, n'um paroxismo de lagrymas e de soluços, que partiriam o coração ao mais indifferente.

E Carlos estava seguro que nenhuma mulher o havia de amar como ella; que os longos e ondados anneis de loiro cendrado, que os languidos olhos de gazella, que o ar majestoso e altivo, que a tez d'uma alvura celeste, que o espirito, o talento, a delicadeza de Georgina... Chamava-se Georgina; e é tudo quanto por agora póde dizer-vos, ó curiosas leitoras, o discreto historiador d'este mui veridico successo: não lhe pergunteis mais, por quem sois.

'Se eu nunca deixei, nem um momento... Com um gesto expressivo, e de suave mas resoluta denegação, Georgina pôs a mão na bôcca do pobre Carlos, como para o impedir de dizer uma blasphemia. Elle segurou-a com as suas ambas e lh'a beijou mil vezes com um arrebatamento, uma furia, n'um paroxismo de lagrymas e de soluços, que partiriam o coração ao mais indifferente.

'Tu ja me não amas, Georgina, tu! exclamou Carlos depois de uma longa e penosa lucta comsigo mesmo: 'Ja me não amas tu, Georgina? Ja não sou nada para ti n'este mundo?