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Chegou-se a ella o Gabiru e poz-se a olhal-a. Depois perguntou-lhe: Tu que tens? tu que queres? Vae-te!... Ella não respondeu, e elle esquecido ficou muito tempo a scismar. O que era a Vida afinal?... Pouco e pouco um clarão se fazia na sua alma... O Gabiru absorto sonhou, até que a seu lado uma voz rouca lhe disse: Mas então p'ra quê? p'ra que criam a gente.

E ella ahi volta, ahi torna! Pobre corpo murcho, nascido para o soffrimento, dorido da vida, vestido d'uma sainha e d'um sorriso resignado de quem presente o que a espera quantos gritos! quantas lagrimas pela existencia fóra!... Cerrou-se de todo a escuridão. Suffoco!... No ermo da noite o Gabiru vae tecendo a sua teia: «A materia tambem sonha.

Sobre os calhamaços do Gabiru alguem encontrou por vezes flores resequidas e n'essa primavera caso unico o vento trouxe por cima dos telhados duas borboletas que vieram noivar no saguão. Elle era feliz. Que importa ter-se fome, se se ama? O amor e a não transformam o mundo até ás suas mais profundas raizes?

Juntam-se os fios de luar, amontoam-se nevoas e alguma coisa treme, prestes a fugir mas viva! viva!... Dirieis que é um sorriso, um olhar muito triste... O Gabirú corre e tudo se esvae... a Sombra resta e um ruido de gotas de luar tombando sobre folhas. Elle sorri e diz: Eis como se cria uma alma! Todas as noites, muito tarde, volta para ao da Arvore. Uma é terra, outra é luar, murmura.

Toca a gargalhar da Desgraça e da Dor; transformem em farça toda a tragedia humana. Diz que estás apaixonado? O Gabiru calla-se. Tu não falas?... Ah tu não falas, enguiço?...

Ris-te, hein, ou sou eu que me rio? Queremos ter saude e ter risos. Eu nunca me ri, eu nunca me pude rir, préga uma bocca na escuridão. O Gabiru sente-se agarrado pelo homem do pacho. O olhar luz-lhe odiento e a sua voz, atravez do pacho, parece provir d'um tumulo. Leve-nos! mostre-nos o oiro, as arvores, os montes todos d'oiro...

Falam, pregam! Ouve-lhe os gritos? Era na realidade uma mistura de sonho e vida. O Predio tremido até aos alicerces, queria elle proprio crear. O rio subterraneo estrupia coleras, engrossára, rompera para a luz; o esgoto acossado carreava oiro, como as poças que reflectem um poente. O Gabiru prégava aos desgraçados. O Pitta mostrando-lhe ao os montes, as arvores, a natureza, desvairara-o.

Algumas, de viverem d'um passado de fogo, parecem mirradas, outras procuram mingoar, extinguir-se, não occupar logar na terra. E entretanto as mulheres vão cantando na mesma toada de catastrophe, que a noite traga, como farrapos de sonho espesinhado... Todas as noites o Gabiru vae sentar-se a um canto a scismar. Olha a Mouca sem palavra e sonha.

Nos regos do arado correm rolos de nevoa e a verdura da herva, na manhãsinha, é immaterial, como se fosse a respiração da terra. As aves, nas moutas, começam o seu dia cantando. Que sentes? pergunta o Pitta ao Gabiru. Espera! espera! diz o outro entontecido. Ouço gritos e vejo uma brancura e gestos... Mas o que eu ouço! que sem numero de vozes, de palavras precipitadas! Vês arvores?

Ha vozes esplendidas dentro em mim; de mim brotam arvores, estatuas mutiladas, pedaços vivos de sonho. Oh eu creio que cada creatura é um composto d'almas de montes, de pedras, d'aguas, e creio tambem que existe uma mysteriosa ligação entre o homem e os mundos. Estou preso ás estrellas e aos cardos humildes. Dizem rindo se eu passo encolhido e esguio: vae o Gabiru! Deixal-o dizer!

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