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Atirei-lhe o perigoso embrulho da camisinha da Mary; e a meu pedido o risonho Potte explicou á desventurada que qualquer das peccadoras que habitam junto á torre de David, a gorda Fatmé ou Palmira a Samaritana, lhe daria duas piastras d'ouro por esse vestido de luxo, de amor e de civilisação. Trotámos para a estrada.

Mas ao mergulhar o sol no mar de Tyro estava restabelecido e vivaz: Potte preparára para essa noite uma festividade sensual em casa da Fatmé, matrona bem acolhedoura, que tinha no Bairro dos Armenios um dôce pombal de pombas: e nós iamos contemplar a gloriosa bailadeira da Palestina, a Flôr de Jerichó, a saracotear essa dansa da Abelha, que esbrazêa os mais frios e deprava os mais puros...

Espreguicei-me, tumido de desejo. Por traz d'ella Fatmé, com a ponta dos dedos, ergueu-lhe o véo devagar, devagar e d'entre a nuvem de gaze surgiu um carão côr de gesso, escaveirado e narigudo, com um olho vesgo, e dentes podres que negrejavam no langor nescio do sorriso... Potte pulou do divan, injuriando Fatmé: ella gritava por Allah, batendo nos seios, que soavam mollemente como odres mal cheios.

Sentia-me feroz, com desejos de escavacar o bandolim... Mas Potte reappareceu, cofiando os bigodões, dizendo que por mais nove piastras d'ouro Fatmé consentia em mostrar a sua secreta maravilha, uma virgem das margens do Nilo, da alta Nubia, bella como a noite mais bella do Oriente. E elle vira-a, afiançava-a, valia o tributo d'uma fertil provincia. Fragil e liberal, cedi.

A recatada portinha da Fatmé, ornada d'um de vinha secca, abria-se ao canto d'um muro negro junto á Torre de David. Fatmé esperava-nos, magestosa e obesa, envolta em véos brancos, com fios de coraes entre as tranças, os braços nús tendo cada um a cicatriz escura de um bubão de peste.

Fatmé, no emtanto, jurava que Allah era grande e que ella era a nossa escrava. E, se nós a quizessemos mimosear com sete piastras d'ouro, ella em compensação da Rosa de Jerichó offerecia-nos uma joia inapreciavel, uma Circassiana, mais branca que a lua cheia, mais airosa que os lirios que nascem em Galgalá. Venha a Circassiana! gritei, excitado.

E Fatmé apertava com humildade o coração, invocava Allah, dizia-se nossa escrava! Mas era uma fatalidade! A Rosa de Jerichó fôra para o principe louro que viera, com cavallos e com plumas, do paiz dos Germanos!... Eu, despeitado, observei que não era um principe: mas minha tia tinha luzidas riquezas: os Raposos primavam pelo sangue no fidalgo Alemtejo.

E Fatmé, de olhos em alvo, chilreava beijos na ponta dos dedos exprimindo os deleites transcendentes que devia dar o amor d'aquella Nubia... Certo, pela persistencia do seu olhar, que as minhas barbas fortes a tinham captivado, desenrosquei-me do divan, fui-me acercando, devagar, como para uma preza certa. Os seus olhos alargavam-se, inquietos e faiscantes.

Caramba, eu vim aos Santos Lugares para me refocilar... Venha a Circassiana! Larga as piastras, Potte! Irra! Quero regalar a carne! Fatmé sahiu, recuando: o festivo Potte reclinou-se entre nós, abrindo a sua bolsa perfumada de tabaco de Alepo. Então, uma portinha branca, sumida no muro caiado, rangeu a um canto, de leve: e uma figura entrou, velada, vaga, vaporosa.

Uma a uma, as nove piastras d'ouro tiniram na mão gordufa de Fatmé. De novo a porta caiada rangeu, ficou, cerrada e, sobre o tom alvaiado, destacou, na sua nudez côr de bronze, uma esplendida femea, feita como uma Venus. Durante um momento parou, muda, assustada pela luz o pelos homens, roçando os joelhos lentamente.

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