United States or Venezuela ? Vote for the TOP Country of the Week !


Amar-te, não é para mim uma função: é a propria essencia do meu ser. Julgo ás vezes que não existes, material e tangivel, que existes mais real: nasceste e vives no meu cerebro, tanto se casa a tua figura ao meu sonho de belleza. Pintor, se idealisasse uma mulher, o meu quadro pareceria o teu retrato, embora nunca te tivesse visto. Poeta, o teu misterio seduz-me, alma que se guarda, avidamente, sem que ninguem a adivinhe. Todos passam por ti, sem a possuir, como as quilhas dos navios que cortam as ondas não maculam a eterna virgindade do mar... Foi ao ver o mar, que mais pensei em ti. Pelo Mediterraneo socegado, estudei a onda, sem conseguir conhecel-a. As ondas são graciosas, as suas curvas teem ternos desenvolvimentos: dir-se-iam mulheres que brincam na relva fresca. E desfazem-se em flocos de espuma, quebram-se umas contra as outras com fragilidade de cristaes, são leves como leques, e no emtanto matam, levantam-se em vagalhões que sacodem os couraçados, despedaçam os navios. Carinhosas, riem e fogem, como tu; a onda de esmeralda que saltita, enfeitada de rendas, subitamente é uma gigantesca aza d'abutre que se curva, para apreender...

N'este degredo nosso, Que tanta gente estima, E eu, porque não posso, Não largo e vou cima. Vem tu baixo, abala, Deixa em podendo o collo Tão terno que te embala, E vem-me dar consolo. Como essa imagem pura Ah! sobrevive ao nada E escapa á sepultura, Tão fresca e perfumada! Nunca uma noite eu deixe De estar a vêr que existes, Em quanto me não feche O somno os olhos tristes.

Solidão, solidão, quem diz que existes Onde não soa tumultuar das turbas Mentiu-te a essencia! Solidão e morte São uma idéa ; um pensamento Doloroso, indistincto. Oh, dae-me um valle, Onde haja o sol da minha patria, e a brisa Matutina e da tarde, e a vinha e o cedro, E a larangeira em flor, e as harmonias Que a natureza em vozes mil murmura Na terra em que eu nasci, embora falte No concerto immortal a voz humana, Que um ermo assim povoará meus dias. Mas aqui!... Que me importa o murmurio Dos que passam? Que vale essa campina Humida e verde, e no gelado pégo Raio do sol que se refrange turvo?

Mal eu diria que na terra existes Cidade dos Poetas e dos Tristes, Com teus sinos clamando «Never-moreOs comboios relampagos voando, Pela cidade de Baltimore, Levam uns sinos que de quando em quando Ferem os ares, o coração magoando E os sinos clamam «Never-more, never-more». ........................................... Baltimore, 1897. Ao Mar

Tal poesia e saudade em torrentes No teu meigo sorrir eu aspiro, E no olhar que me lanças a furto, E no encanto de um mudo suspiro, Para mim és tu hoje o universo: Soa em vão o bulicio do mundo; Que este existe sómente onde existes: Tudo o mais é um ermo profundo. No silencio do amor, da ventura, Adorando-te, oh filha dos céus, Eu direi ao Senhor: tu m'a déste: Em ti creio por ella, oh meu Deus