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ERGASTO. Claros olhos, que ao sol fazeis inveja, Que brandos vos mostreis ja vos não peço; Mas que poder-vos ver paga me seja, Se por tamanho amor tanto mereço: Armados d'esquivança então vos veja Cheios d'hum não sei que, com que pereço; Que doce me será tal esquivança. Doce o morrer, qu'em olhos taes s'alcança!

DELIO. Se o meu juizo cada qual consente, Tu, Ergasto, ao doce canto comêço; Tu responde, Laureno, juntamente: E eu fico que nenhum perca o seu preço. ERGASTO. Alcida, que na côr o leite puro, E a rosa da manhãa deixas vencida, Culpa he dos olhos teus, nelles o juro, Est'amor de qu'estás tão offendida.

ERGASTO. Consente agora, ó Delio, que chorado Em triste verso seja apartamento, Que assi me deixa triste e magoado. DELIO. Não: que se dobrará meu sentimento. Mas se queres, Ergasto, que m'esqueça Partida, que lembrada he tormento, Canta aquelle Soneto, que começa: Quantas vezes do fuso s'esquecia. Que digas hum dos teus, não sei se o peça.

ERGASTO. Se com m'ouvir, a dor se te allivia, Eu o direi. Mas eis vem Laureno, Que a cantar vezes mil me desafia. Cantando venceo ja Tityro e Almeno: E eu, inda que sei certo ser vencido, Apostar a cantar com elle ordeno. LAURENO. Ergasto, pois o tempo se ha offrecido, Celebremos amor e formosura, Emquanto o gado á sombra está acolhido.

DELIO. A gloria, Ergasto meu, qu'he possuida, Nunca sabe de nós ser tida em preço: despois que se perde he conhecida. E desta vida os bens, qu'eu não mereço, Quando os perco e o mal da outra ja m'espera, Com grandes mágoas d'alma os reconheço. Oh se em ditosa sorte me coubera Por favor ou destino das estrellas, Qu'entre pastores, eu pastor vivêra!

Porque, ligeira luz, te não detinhas, Em quanto em meu queixume achava gôsto? ERGASTO. Agora, ja que o Tejo nos redeia, Neste penedo, donde mansamente Murmurando se quebra a branda veia, Espera, Delio, até que do Occidente D'azul deixe a ribeira matizada O sol, levando o dia a outra gente. Entretanto daqui verás pintada A praia de conchinhas d'ouro e prata, E a ágoa dos mansos sopros encrespada.

Parece que a beija-la o deos se atreve, E que ainda dos beijos mal soffridos Inclinado lhe foge o tronco leve. ERGASTO. Outro vaso porei d'hera cingido, No qual Orpheo das aves esquecidas E dos suspensos bosques he seguido. Não cuido que de faia são sahidas De tal arte, lavor de tal maneira: Tambem obra he d'Alceo, das mais polidas.

Se por viver della e por amá-la, Julgas que algum castigo se me deve, A ver-te sempre rindo me condena, Pois crescendo o amor mais, mais cresce a pena. ERGASTO. Com a mãe, que maçãas colhendo andava, Inda pequena, a bella Alcida vinha: Eu os ramos da terra ja tocava, Ja facil para amar o tempo tinha.

Esta, das que me deo, foi a primeira; Que a dar-ma o velho Alcido emfim s'abranda, Ouvindo-me cantar nesta ribeira. Ouvio-m'então, estando desta banda; E dando-ma, dizia-me: Este seja O premio, Ergasto, dessa Musa branda. LAURENO. Delio o nosso cantar pondere, e veja Qual dos dous a voz mais docemente; Que huma tal causa tal juiz deseja.

ERGASTO. Postoque ja a victoria tens segura, Não cantarei sem preço, porque saia Mais ledo quem cantar com mais brandura. LAURENO. Eu hum vaso porei de lisa faia, Divina obra de Alceo, que celebrado Será sempre por claro nesta praia. A vide, de que em roda está cercado, Os roxos cachos cobre; e primor teve Em pôr no meio a Dama e Pan cansado.

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