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Ebla ficára por instantes ; revolvia na mente o dito da cigana; nas cantigas a cigana dissera-lhe mais cousas: Que um cavalleiro moço e formoso a adorava; que por ella seria capaz de abandonar a religião em que nascera e seguil-a até aos confins do universo. E que se um dia visse um moço trigueiro, de bigode preto e olhos vivos, faiscantes, era D. Tello, aquelle que a adorava.

Ebla e D. Tello afundavam-se na escuridão da noite, quando entra na Judiaria um tropel immenso de homens de armas e de cavallo; ia na frente o alcaide da justiça.

O velho ia quasi exhausto, a turba que o perseguia ia rareando apoz elle; poucos o seguiam; mais um esforço, e ficaria salvo; as pernas parecem falhar-lhe, falta-lhe o ar; sente vontade de atirar-se ao chão e deixar-se retalhar. Mas um raio de luz e de vigor lhe atravessou o espirito; lembrara-se de Ebla, de sua filha!

Tornaram a chamar por Ebla; o grande ruido das ruas e da multidão nada deixava perceber. Chamou por Ebla com uma afflicção de morte; viram a porta aberta; multidão de gente que tripudiava, lançando fogo ás casas. O velho pae parecia um leão ferido. A maldição d'esta raça caiu inteira sobre mim. Perdi tudo ao levarem-me essa filha. A minha condemnação, a minha morte para salval-a.

Sentiu uns passos na rua, depois uma voz mansa e suave que proferiu no silencio da noite: Ebla! Estes sons entraram na alma da donzella; e obedecendo á fascinação d'aquella voz, lançou a cabeça de fóra. Viu na sombra um vulto, que a irradiação lhe illuminou como a imagem vaga descripta no cantar da cigana.

Ó meu pae, accudiu Ebla, passou hoje pela nossa porta uma cigana, cantando romances e siguidilhas de Hespanha, e pedi-lhe para ella cantar... E que ouviste? interrompeu o judeu aterrado. Ella contou-me que el-rei D. Manoel vae em breve casar com a filha de Fernando e Isabel a Catholica, e que ella acceita a mão de esposo com a condição de desterrar para sempre os judeus para fóra de Portugal.

Sentou-se de cansado. Tinha perto de si o Guemára; ao lado vem assentar-se a filha, Ebla, assim chamada do nome da Lua, como conta o velho Livro de Enoch. Ebla fallou-lhe: Nunca mais tornaremos a vêr Sião, e os tumulos dos prophetas? nem escutaremos o susurro dos nossos rios? O pae, emquanto as outras crianças brincavam, poisou o dedo sobre o verso do Guemára, volveu-lhe um sorriso doloroso.

O velho Rabbi vinha ensanguentado e roto; ao receber o abraço de Ebla tirou-lhe do pescoço um colar de perolas, e veio dal-o ao desconhecido. O moço cavalleiro beijou-o, e tornou-o a entregar. Quem és, que te mostras tão generoso e cavalleiro? perguntou o Rabbi. Dom Tello; e adeos!

Ebla atou na mente esta lembrança; lembrou-se que Tello, o moço cavalleiro acabava n'esse instante de salvar o pae. Nasceu-lhe na alma um amor repentino; veiu-lhe uma vontade de vêl-o, de lhe fallar; notou a generosidade de não acceitar mas beijar o collar de pérolas. Solícita e a medo assomou á gelosia; a luz do candil reflectiu-se fóra, através das grades da adufa.

Se ha no mundo alguma força superior, que seja o destino das cousas, Jahvé ou Jesus, acaso ou as potencias do inferno, conjuro tudo sacrifico-lhe a minha vida, a minha sorte pelo apparecimento d'Ebla. De que vale todo esse ouro e pedrarias se perdi Ebla; levaram a minha joia de mais valia, e com ella todas as esperanças e alegrias da minha vida...

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