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Em conta de affectação orgulhosa foi que ella tomou a isempção do marido, julgando-se por isso menospresada na riqueza. Quanto a ser amada, confessava D. Julia que o era como seria qualquer outra menina pobre que não désse tão brilhante, e tão desdenhada independencia a seu esposo.

Eram, no grande seculo classico, Pascal, Racine e Molière; eram, na soberba Renascença franceza, Rabelais e Montaigne; eram depois, n'esse seculo XVIII hoje tão calumniado, mas sempre tão grande, e que tão indomitas energias acordara na alma do homem, Rousseau com a sua morbida sensibilidade de ambicioso e de revoltado, que nós hoje comprehendemos tão bem; era Voltaire, a ironia hoje desdenhada, mas que tão benefica acção exerceu na treva do espirito humano; era Diderot, o profundo precursor de todas as modernas theorias criticas, o homem que no seu tempo moveu maior numero de idéas novas e suggestivas; era a pleiade formidavel e fascinante da Revolução, a que na minha mocidade me dera sensações de tão absoluto assombro, a que, desde Turgot e Mirabeau até Robespierre, refizera em novos moldes o mundo moral e o mundo politico; era, na cumiada mais alta e mais luminosa da montanha da Historia, essa grande figura immortal, o Alexandre do seculo XIX, o heroe de Homero, o phrenetico conquistador, que empobreceu talvez a França, que dizimou as populações e crucificou as mães e as noivas, que sangrou do seu melhor sangue as nações e as raças, mas que imprimiu na sua patria o cunho epico, inapagavel, inolvidavel, com que ella ainda hoje espanta e assombra o espirito dos estrangeiros!

Não duvido, não senhor; temos talento, temos genio, temos superioridade, temos phantasia, temos tudo quando quizerem. O que nós não temos é uma cousa pequena, humilde, despertenciosa, desdenhada. Não temos bom-senso.

Havia, porêm, uma tremenda e dolorosa mudança a do José Matias! ¿Adivinha o meu amigo como êsse desgraçado consumia os seus estéreis dias? Com os olhos, e a memória, e a alma, e todo o ser cravados no terraço, nas janelas, nos jardins da Parreira! Mas agora não era de vidraças largamente abertas, em aberto êxtasi, com o sorriso de segura beatitude: era por trás das cortinas fechadas, através duma escassa fenda, escondido, surripiando furtivamente os brancos sulcos do vestido branco, com a face toda devastada pela angústia e pela derrota. ¿E compreende porque sofria assim, êste pobre coração? Certamente porque Elisa, desdenhada pelos seus braços fechados, correra logo, sem luta, sem escrúpulos, para outros braços, mais acessíveis e prontos... Não, meu amigo! E note agora a complicada subtileza desta paixão. O José Matias permanecia devotamente crente de que Elisa, na profundidade da sua alma, nesse sagrado fundo espiritual onde não entram as imposições das conveniências, nem as decisões da razão pura, nem os ímpetos do orgulho, nem as emoções da carne o amava, a êle, únicamente a êle, e com um amor que não deperecera, não se alterara, floria em todo o seu viço, mesmo sem ser regado ou tratado, como a antiga Rosa Mística! O que o torturava, meu amigo, o que lhe cavara longas rugas em curtos meses, era que um homem, um macho, um bruto, se tivesse apoderado daquela mulher que era sua! e que do modo mais santo e mais socialmente puro, sob o patrocínio enternecido da Igreja e do Estado, lambuzasse com os rijos bigodes negros,

então ella dormirá em paz, no cemiterio melancolico da terra agreste e linda que unicamente conheceu na vastidão do mundo!... Os pinheiros rumorejantes, as pedras, as flores, as coisas inanimadas, comprehenderão melhor a sua pobre alma inferior. Ás vozes mudas da natureza juntar-se-ha a sua voz queixume de triste desdenhada pelo egoismo dos homens. 18 de junho de 96.