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Vamos á historia com ajuda da providencia dos romancistas, a qual providencia, muitas vezes, abre mão d'elles, e deixa-os para ahi parvoejar que é mesmo cousa de peccado.
A natureza, arvores, montes, rios, esse pelago que vejo do meu quarto deixa-os indifferentes; as horas de preguiça e sonho deixam-os indifferentes. Nunca tiveram tempo para amar as coisas simples e grandes da vida. O que é eterno não no viveram. Por mim antes quero comer pão e scismar, deixar correr as minhas idéas como um regato corre até onde tem agua.
Não: disse-lhe com uma falsa graça no rosto: quero-te assim: partiremos hoje mesmo para Lisboa. «E os meus fatos, as minhas joias? perguntou ella Tenho brilhantes que eram de minha mãe.» Deixa-os.
Elysa, deixa que os ricos da fortuna e os poderosos da terra nasçam, vivam, e morram sem nunca terem visto a face da madrugada; fatigou-os a noite no bulicio dos saraus e das orgias, deitaram-se quando o dia se alevantava; deixa que elles ignorem, que elles não gozem o brilho suavissimo da mais rica perola do diadema do mundo, deixa-os, e vem tu comigo assistir em espirito á festa de todos os dias, ao desabrochar da madrugada: Eil-a trajando verdores A linda mãe dos amores, Com seus volateis cantores Pelos campos a folgar; Eil-a folgando na mata, Que nas aguas se retrata, Nas aguas de lisa prata, Na prata do liso mar.
Elysa, eu bem comprehendo que tu antes quizeras que o teu amante ausente praguejasse a terra que lhe rouba a sua Elysa; crês que a delicadeza do sentimento pedia antes isso, seja assim: mas consente aos poetas mais uma liberdade, deixa-os dizer o que os outros calam por traiçoeiros; não vale mais esta franqueza?
Se contra a lei, contra o pae, conspira Lysia no crime do crime o castigo vae. Triumpha o Milhão, e Hero não houve mais que uma só? O Creso do oiro em pó a flauta fará de Nero, e da flauta um bom cipó. E se os maridos, tontinho, fugindo ás esposas vão, deixa-os lá. Por fim terão, em vez do calor do ninho, os gêlos da solidão.
Os materiaes que Delfim Guimarães colligiu para invalidar a personalidade litteraria de Christovam Falcão, deixa-os elle dispersos nos varios capitulos do seu livro, os quaes sobrepostos uns aos outros, á medida que se vai avançando na leitura, introduzem em qualquer espirito a certeza da these que o auctor se propoz comprovar.
Olha, rapaz, a tua casa já dá bem que fazer a um homem. E quem quizer que prenda os ladrões e ande adiante dos cabos em serviço do rei, que tu, graças a Deus, não ficas mais honrado com isso. Inda se essa gente do governo fizesse caso de quem os serve bem, mas tu estás vendo como elles são. Por isso deixa-os; elles que se avenham, que lá se entendem.
Um casamento, um baptisado, um dia d'annos, um amigo que chega, um amigo que parte, tudo isso constitue motivo de festa. Fóra d'ahi, é sisudo, sorumbatico, macambuzio, incapaz de, por coisa alguma d'este mundo, se arredar da linha inquebrantavel de uma inquebrantavel bisonhice. Deixa-os, pois, deixa-os divertir-se, que a alegria d'elles não é d'aquellas que magoam o coração dos que soffrem...
Porém, não!... Dormir deixa os que me cercam O somno do existir; Deixa-os, vãos sonhadores de esperanças Nas trévas do porvir. Doce mãe do repouso, extremo abrigo De um coração oppresso, Que ao ligeiro prazer, á dor cançada Negas no seio accésso, Não despertes, oh não! os que abominam Teu amoroso aspeito; Febricitantes, que se abraçam, loucos, Com seu dorído leito!