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Quando me decido a pensar como filósofo, cólo umas barbas postiças, fico em robe-de-chambre. Defronte da minha psyché imperio, dou-me a ideia d'uma Diogenes limpo. O mais usual, porem, é não pensar... Estou dispepético: o pensamento é terrivel para nós. Isto não impede que lhe conte um episodio da vida de Davis. Simpatiso com elle, dou-me até com elle.

O sol ia a morrer, n'uma catástrofe... Um rebanho de nuvens encharcava-se em sangue. N'uma fita delgada, um repuxo subia, dobrava-se e estilhaçava-se na agua do tanque. O amante chorava... Desvairada, a ministra da Esclavonia perseguia sir Arnold Davis, que, de sala para sala, passava em revista as senhoras em toilettes de baile.

Elle não diz como o poeta: «je porte fiérement la honte d'être beau»; não, para Davis não é uma vergonha, pelo contrario, trata de fazer valer, por toilettes e atitudes longamente estudadas, por meios artificiaes, a sua belleza clara, loira, a que os olhos transparentes dão um encanto misterioso, uma sedução que empolga, fascina, arrasta os pobres mulheres que desmaiam, sucumbem, diante desse Apollo adolescente e terno, cuja força se adivinha apenas nas mãos, de dedos firmes, de pelle, apesar dos cosmeticos, um pouco aspera.

E foi para elle como uma escrava, atenta, paciente, devotada, gastando o seu ultimo penny em futilidades que Davis atirava para o lado, com desdem, dando-lhe quarto, copiando á noite escritas, para pagar a luz, a lenha, a agua, porque Davis fôra viver com ella, por economia era um periodo de guigne extraordinaria! persuadindo-se a pobre Eva que era por amôr.

Foi sobre ella que Davis se lançou, decidido, acirrado não pelos seus dois milhões de libras, mas tambem pela pelle fina, mate, macerada em banhos prolongados de perfumes, pelos olhos em que brilhava uma volupia indecisa, a afogar-se na tristeza, como um reflexo impreciso de estrella num tanque. A mulher deve ser como o Champagne: extra dry.

Essa pobre rapariga prendeu-se nos olhos azues de Davis; prenderam-a seus braços fortes, a sua boca que ao beijar mordia.

Veja Ibañez... A «Catedral» liquida em artigo de fundo. E Davis? atalhei, pondo um dique á divagação abundante. O ministro sorriu-se. Certamente que se lembrou do epigrama de Marcial. Ah, sim! Davis e Aix-les-Bains. Estou prolixo como o bom Tito Livio. Entro em materia.

N'esse momento, sir Arnold Davis passou, levando pelo braço a franzina Carlota Von Hameghen, que lhe encostava a cabeça ao hombro olhando para elle n'uma suplica, que o sorriso dos labios finos apoiava fortemente. Para fugir da exotica humanidade que enchia as salas do Kursaal de Genebra, saimos, apezar da noite fria, para o amplo terraço sobre o Léman tranquillo.

Lady Hanswell atacava vigorosamente, num assalto de desespero, pondo na conquista de Davis toda a pertinacia da raça, toda a galantaria e vaidade do sexo.

Davis via-a sofrer, indiferente, achando rasoavel que por elle outrem penasse, continuando descuidado, até que um dia a fortuna sorriu-lhe pela boca desdentada d'uma rainha de qualquer coisa na America, porco salgado ou azeite de fóca. Nunca mais soube d'Eva, de quem nem sequer se despediu, e que, se não morreu de dor o que é pouco provavel teve com certeza uma lancinante crise de desespero.

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