United States or Brunei ? Vote for the TOP Country of the Week !


Amaro abriu o seu Breviario, ajoelhou aos pés da cama, persignou-se; mas estava fatigado, vinham-lhe grandes bocejos; e então por cima, sobre o tecto, através das orações rituaes que machinalmente ia lendo, começou a sentir o tic-tic das botinas de Amelia e o ruido das saias engommadas que ella sacudia ao despir-se. Amaro Vieira nascera em Lisboa em casa da senhora marqueza d'Alegros.

Estou sempre com o Joãosinho na cabeça... Amaro procurou logo ao outro dia o padre Liset em S. Luiz. Tinha ido para França. Lembrou-se então da filha mais nova da senhora marqueza d'Alegros, a snr.^a D. Luiza, que estava casada com o conde de Ribamar, conselheiro d'Estado, com influencia, regenerador fiel desde cincoenta e um e duas vezes ministro do reino.

Seu pai era criado do marquez; a mãi era criada de quarto, quasi uma amiga da senhora marqueza. Amaro conservava ainda um livro, o Menino das selvas, com barbaras imagens coloridas, que tinha escripto na primeira pagina branca: Á minha muito estimada criada Joanna Vieira e verdadeira amiga que sempre tem sido, Marqueza d'Alegros.

E era impossivel obtel-a! E todo o homem feio e estupido podia ir á rua da Misericordia pedil-a á mãi, vir á dizer-lhe: «Senhor parocho, case-me com esta mulher», e beijar, sob a protecção da Igreja e do Estado, aquelles braços e aquelle peito! Elle não. Era padre! Fôra aquella infernal pêga da marqueza d'Alegros!...

Contou então com bonhomia ao tio Esguelhas e aos dois sacristães que, quando era pequeno, em casa da senhora marqueza d'Alegros, o seu grande desejo era ser um dia sineiro... Riram muito, extasiando-se com a pilheria de sua senhoria. Não se riam, é verdade. E não me ficava mal... N'outros tempos eram clerigos d'ordens menores que tocavam os sinos.

Uma infancia melancolica, com aquella pêga da marqueza d'Alegros; depois a casa na Estrella, com o alarve do tio toucinheiro; e d'ahi as clausuras do seminario, a neve constante de Feirão, e alli em Leiria tantos transes, tanta amargura... Se lhe tivessem esmagado o craneo ao nascer, estava agora com duas azas brancas, cantando nos córos eternos.

A marqueza d'Alegros ficára viuva aos quarenta e tres annos e passava a maior parte do anno retirada na sua quinta de Carcavellos. Era uma pessoa passiva, de bondade indolente, com capella em casa, um respeito devoto pelos padres de S. Luiz, sempre preoccupada dos interesses da Igreja.

Palavra Do Dia

sentar-nos

Outros Procurando