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E certamente quando El-Rei viu e contemplou na realeza de Ceuta, e em sua grandeza, maravilhoso e forte assento, que seu avô com outra semelhante passagem ganhara, e se lembrou d'Alcacere, e de seu sobrenome Ceguer, ficou triste e pensoso; porque a parecer dos que as viram, tão pequena cousa não encheu a grandeza e bondade de seu coração, e suspirava por outra maior.

E em fim de suas palavras, com os giolhos no chão lhe beijou as mãos, e assi todos os principaes que hi eram, e á quinta feira XVII dias d'Outubro El-Rei partiu de Lagos com toda sua frota, em que por todas haveria duzentas e vinte vellas, e ao sabado porque o vento não terçou para tomar o porto d'Alcacere, foi El-Rei surgir pela manhã sobre a barra de Tangere, onde esteve aquelle dia e ao domingo, por recolher a outra frota que não chegava.

No fim do mez de Outubro d'este anno de mil e quatrocentos e quarenta e dois, o Infante D. João em a villa d'Alcacere do Sal acabou sua vida de febre, d'onde levaram seu corpo ao mosteiro da Batalha, onde tem sua sepultura, dentro da capella d'El-Rei D. João seu padre, e foi sua morte com dôr e tristeza de muitos muito sentida; porque era Principe de grande casa, e em que havia muitas bondades e virtudes sem algum vicio que as minguassem, em especial era muito amigo do bem commum d'estes reinos, que por elle mostraram claros signaes da perda que n'elle perderam.

E vieram-se os alcaides ao logar d'Anexanuz onde estava um christão captivo, natural da Villa de Lagos, a que chamavam o Talheiro, o qual tinha muita amizade e pratica com um mouro, cujo nome era Azmede, que fôra em Tavila captivo, e sabendo bem o Talheiro o ardil e determinação dos alcaides, pela qual a perdição de D. Duarte e da villa d'Alcacere com toda a gente se não podia escusar, doendo-se d'isso como bom christão e leal portuguez, tanto aperfiou com Azmede e tantas esperanças lhe pôs na bondade e verdade dos christãos para sua honra e proveito, que o houve de commover que de todo o que era concertado logo aquella noite fosse como foi avisar D. Duarte.

E finalmente El-Rei de Fez com todo seu arraial se alevantou de sobre a villa, dia de S. Bertholameu, XXIV dias d'Agosto de mil quatrocentos e cincoenta e nove. Durou este segundo cerco d'Alcacere outros LIII dias como o primeiro.

No mez d'Abril do anno seguinte de mil e quatrocentos e sessenta, por prazer e consentimento d'El-Rei leixou D. Duarte por capitão d'Alcacere Affonso Tellez, seu sobrinho, e se veiu a Lisboa onde achou El-Rei, que d'elle e de toda sua côrte foi grandemente e com muita honra recebido, e d'ali se foi El-Rei a Santarem, onde com solemne arenga de seus serviços e merecimentos, e com devida cerimonia o fez conde de Vianna de Caminha.

E depois de tornar e mandar firmar outras vezes a segurança do escallamento, aos XIX dias de Janeiro de mil e quatrocentos e sessenta e quatro partiu d'Alcacere, e mandou levar quatro escadas, de que deu cargo áquellas pessoas em que entendeu que havia saber e esforço para isso.

E porém El-Rei sem embargo de todo determinou correr primeiro o campo d'Arzila, e vê-la, com desejo de a tomar, o que logo pôs em obra; porque partiu logo para Alcacere, e de hi com o Infante passou a serra pelo porto d'Alfeixe, e em amanhecendo deram em umas aldeias, que com o aviso e mêdo da ida d'El-Rei eram despovoradas, e porém correram legoa e meia por outras partes, e n'aquellas principalmente que o Infante D. Fernando barrejou mataram alguns mouros e captivaram muitos, e arrancaram muito gado e outro despojo, com que de noite passaram o rio de Tagadarte, e junto com elle da banda d'Alcacere se alojaram aquella noite.

E d'Alcacere em companhia de D. Affonso de Vasconcellos, que depois foi conde de Penella, e do conde D. Duarte, a que o duque seu padre e elle tinham grande affeição, entraram muitas vezes em terra de mouros, e foram correr até ás portas da cidade de Tangere, onde se fizeram honrosos feitos d'armas, e de que trouxeram grande numero de captivos e mui grandes cavalgadas.

E n'estes tempos foi a villa d'Alcacere pelos mouros com bombardas e trons e outras armas, e com uma irosa porfia muitas vezes combatida e afrontada, e com a graça de Deus não faziam dentro o dano de que elles tomavam de fóra muita gloria, e porém a verdadeira pena elles a recebiam com muitas mortes e feridas, que dos christãos de noite e de dia sempre padeciam.

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