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E n'uma dessas tardes, alguns dias depois da sua morte, eu aproximei da porta de ferro a minha pobre cabeça esbrazeada e olhei para dentro do jazigo, involuntariamente; e então, como quer que eu visse a dentro do jazigo alguns caixões arrumados, e como eu acertasse em descobrir o caixão do Cesario, os soluços despedaçaram-se contra a minha garganta, n'uma afflicção immensa e cruel.

Mas podia viver tranquillo o teu orgulho de artista: o teu medico sabia que o poeta Cesario Verde eras tu proprio, meu pallido agonisante illudido! A esthesia, o processo artistico e a individualidade d'este admiravel e originalissimo poeta merecem á Critica independente uma attenção desvelada.

E no dia em que eu medi forças com as avançadas do meu destino, a inquietação invadiu o espirito e o coração de Cesario Verde, por modo que eu assoberbara com o meu desprezo a desventura pertinaz e ainda elle não vingára libertar-se do peso de seus cuidados e afflições.

As facturas são feitas por gente Que tem amores, odios, paixões politicas, ás vezes crimes E são tão bem escritas, tão alinhadas, tão independentes de tudo isso! Ha quem olhe para uma factura e não sinta isto. Com certeza que tu, Cesario Verde, o sentias. Eu é até ás lagrimas que o sinto humanissimamente. Venham dizer-me que não ha poesia no comercio, nos escritórios!

E foi então que a voz rouca e enfraquecida do Cesario lembram-se da voz d'elle? pronunciou distinctamente a dentro do caixão: « natural, meu amigo; naturalEra a voz do Cesario; era a sua voz tremente e doce, ó meu sagrado horror inconsciente! Debrucei-me contra a porta do jazigo e suppliquei n'uma angustia: «Fala! Dize! Falla, outra vez, meu amigoNão se reproduziu o doloroso encanto.

Encontrámo-nos pela primeira vez no Curso Superior de Lettras. Foi em 1873. Cesario Verde marticulara-se no Curso em homenagem ás Lettras, como se as Lettras estivessem no Curso. Eu matriculara-me, com a esperança de habilitar-me um dia á conquista de uma cadeira disponivel. Encontrámo-nos e ficámos amigos para a vida e para a morte. Para a vida e para a morte.

No Prefacio registra-se a promessa de um estudo critico sobre a Obra de Cesario Verde. Essa obra, dispersa nas columnas do Diario da tarde, do Porto, da Renascença, da Revista de Coimbra, da Tribuna, da Illustração, etc., não será discutida pelo auctor d'estas linhas. Não é hoje discutida, nem o será jamais.

Eu não hesito em vincular o meu nome á promessa de um tributo que a obra de Cesario Verde está reclamando. E todavia, não póde o meu espirito evadir-se á idéa consoladora de que é um sonho isto que o entenebrece! Não pódes evadir-te, ó meu espirito amargurado! mas eu vou libertar-te para a dôr! Foi ás cinco da tarde ainda agora.

E pois que um ligeiro esboço, precedendo mais detido trabalho, estou elaborando sobre os traços mais salientes d'aquella individualidade, não me dispensarei d'esta indicripção: Ha dois mezes escrevia-me Cesario Verde: «O Doutor Sousa Martins perguntou-me qual era a minha occupação habitual. Eu respondi-lhe naturalmente: Empregado no commercio.

Aqui deponho em suas mãos e debaixo dos seus lábios o livro do seu irmão. A minha «obra» terminou no dia em que elle saiu da nossa doce amizade para a nossa terrível amargura: morri, meu querido Jorge deixe-me chamar assim ao irmão do meu querido Cesario; morri para as alegrias do trabalho, para as esperanças dos enganos doces! O desmoronamento fez-se, a um tempo, no espírito e no coração!

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