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Sinto-me então contente, e mais ainda quando, ao romper da manhã, vejo do meu gabinete, ao tempo que nem fumegam as casas vizinhas para a refeição matinal, a canceira com que um moinho-de-vento proximo vae rasgando o nevoeiro com os seus quatro braços alvejantes.
Elle, que foi o successor de Lopes de Mendonça, deve inquestionavelmente ao seu temperamento o ter arrostado ha longos annos com a improba canceira do folhetim sem desanimar, sem ficar vencido.
Ter de remendar um telhado inteiro façam ideia! sem destruir um ninho fôfo, pendurado n'um beiral! Como eu habitava só, aquelle ninho, ali, era quasi como um outro andar da casa, onde vinha passar o verão uma familia minha conhecida. E eu tinha tanto zelo e canceira em conserval-o no mesmo sitio, muito arranjado e prompto, como se fosse o caseiro d'aquelles alegres inquilinos!
Mas da rua aos telhados, em cada varanda, por toda a fachada, eram taboletas encimando taboletas, que outras taboletas apertavam: e mais me cançava o perceber a tenaz incessancia do trabalho latente, a devorante canceira do lucro, arquejante por traz das frontarias decorosas e mudas.
Mas emfim o que digo é que na provincia não ha tal fastio, que esquece a canceira, e que nem o sublime gallimathias do ridiculo d'alli se percebe. Peço aos illustres puritanos que, á fôrça de sublimado quinhentista, tem conseguido levar a lingua á decrepitude para a curar de suas infermidades francezas, peço-lhes que me perdoem o gallimathias, porque elle é muito mais portuguez que outra coisa.
Ao perro do Baeça Habito de Christo a vós? Maldito seja o judeu que lá na côrte o vendeu tal como vossos avós! Padecei tormento atroz, neto de uma cominheira: porque me dava canceira quem não era a Deus fiel que escapasse de um cordel, escapando da fogueira. A opulencia de Pedro de Baeça provinha-lhe da senhora com quem casára.
Talvez que fosse melhor, Vêr... coser a costureira! Vir, de ladeira em ladeira, Apanhar esta canceira E tudo só por amor De vêr uma lavadeira Lavar roupa na ribeira...
No seu quarto do Bragança abrio a varanda. E debruçado, acabando o charuto, na dormente suavidade da noite de Maio, ante a magestade silenciosa do rio e da lua, pensava regaladamente que nem teria a canceira d'esmiuçar as chronicas e os folios massudos... Com effeito! toda a reconstruccão Historica a realisára, e solidamente, com um saber destro, o tio Duarte.
A ninguem confiava o seu segredo, senão ás cartas que enviava a Thereza, longas cartas em que folgava o espirito da canceira da sciencia. A apaixonada menina escrevia-lhe a miudo, e já dizia que a ameaça do convento fôra mero terror de que já não tinha mêdo, porque seu pae não podia viver sem ella. Isto afervorou-lhe para mais o amor ao estudo.
Estava pobre, gastára quanto levára comsigo nos primeiros tempos da peregrinação. Se não fosse a guitarra, morreria de fome. Pouco lhe importava a vida sem Rosina e seu filho. Se não se matava, era porque tinha ainda um resto de fé que o amparava. Foi a Milão. A mesma canceira: perguntar, sempre perguntar. Inquiria todos os harpistas: nenhum lhe soube dar noticias do velho Pietro.
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